Ao Duque do
Cadaval, que oferecia um quarto na sua casa ao autor.
Se eu fora, excelso Duque, homem
perito,
Capinha, ferrador, cabeleireiro,
De cães decurião, ou cozinheiro,
Em sopas mestre, em massas
erudito:
Se em letra antiga lesse o que
anda escrito
De vosso grande avô João
Primeiro,
Que à gótica mostrasse ao mau
caseiro
Que o tombo velho nunca está
prescrito:
Neste caso, senhor, a vossa graça
Mais quisera alcançar, que ter mil burras
Do metal louro, que se ri da traça:
Mas como a sorte me tem dado
surras.
Não vou servir-vos, só por não
ter praça
No livro mestre dos santões
caturras.
Neste poema
António Lobo de Carvalho dirige-se com manifesta insolência ao poderoso Duque
do Cadaval, Nuno Álvares Pereira de Melo, uma das principais figuras da
Restauração de 1640, recusando a oferta de alojamento, a troco de serviços, em
casa do Duque. A que se diz, este soneto terá “rendido” ao Lobo
quatro semanas na cadeia do Limoeiro.
O seguinte
soneto, cujo autor se ignora, é uma resposta ao do Lobo que vai acima:
O seguinte soneto, cujo autor se ignora, é uma resposta ao do Lobo que vai acima:
Grande Duque se algum
Autor perito
Qual Voltaire,
Boileau, Garção, Monteiro
Ou outro cujo nome o
mundo inteiro
Respeitasse por homem
erudito.
Se outro qualquer
lesse o que anda escrito
Do grande Nuno, de João
primeiro,
Vos censurasse a vós,
e ao mau caseiro
Que o Tombo velho
imaginou prescrito.
Neste caso, Senhor,
seria graça
Perdoar ao censor, e
de mil burras
Franquear-lhe o
metal, que se ri da traça.
Mas o Lobo merece
duas surras,
Uma por tolo, outra
por ter praça
No Livro Mestre dos
Santões caturras.
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