Pregões a S. Nicolau (60): 1860


Em 1860, o pregão teve o mesmo autor dos anos anteriores. A novidade deste ano foi o pregoeiro, Domingos Ribeiro da Costa Sampaio (o Menino de Ouro), o primeiro de uma dinastia de notáveis nicolinos. Jerónimo Sampaio era seu filho.

BANDO ESCOLÁSTICO.
Recitado no dia 5 de Dezembro de 1860
POR
DOMINGOS RIBEIRO DA COSTA SAMPAIO

Notável Guimarães, ò nobre terra,
De novo a tua glória desencerra.
Surge, nobre cidade, do letargo;
Suspende por um pouco o pranto amargo
E, sorrindo louçã, modesta e airosa,
Bela, qual entre flores linda rosa,
Surge, surge com toda a galhardia,
Que volve de Nicolau o fausto dia,
Cuja aurora assomar verás em breve
E quando o sol já despedir de leve
De sobre o monte os raios fulgurantes,
Verás, ò Guimarães, os estudantes,
Mais uma vez, seguindo o honroso trilho,
Darem à sua festa esmalte e brilho,
Em formosos ginetes cavalgando,
Delícias pelas ruas espalhando,
– Às damas, a qual mais galante e bela,
Correrem apressadas à janela,
E na linda maçã, enlevo de alma,
De amor colherem a merecida palma,
– O prémio dum infinito sentimento –
Desdenhosas sereis em tal momento!?
E sem valor serão por fés olhados,
Os desvelos por nós liberalizados?
Acaso já de vós fugira amor?
Ou receio tereis dalgum traidor
Ou futrica entre nós encapotado!
Infeliz dele! se amanhã, ousado,
Intenta perpetrar o horrendo crime,
Do preceito infringir da lei sublime...
Futricas, julgareis não ter vigor
Essa lei discutida com ardor!?
E o que nela consiste legislado
Não será fielmente executado!?
Tentai-o, se quiserdes, e vereis
De tarraxa não serem nossas leis,
Nem defesa nos darem nem partido...
Eis a verdade… tendes percebido?
E vós excelsos filhos da ciência,
Que sós gozais tão alta preeminência
De honrar de Nicolau o fausto dia,
É já mui grande a vossa rebeldia
De parte não tomar na grã função...
Assim o mundo exclama; e com razão
Incorreis das censuras no gravame,
E sob o peso dum labéu infame...
Basta: e mais não direi, que já bastante
Eu tenho dito. Sócios meus, avante
Ressoem os tambores, e ouça o povo
Um eco festival romper de novo,
Com tal entusiasmo e fortaleza,
Que faça estrondo em toda a redondeza.
J. F. M. de Abreu.

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