Pregões a S. Nicolau (45): 1872

Milagre de S. Nicolau


No ano de 1872, o pregão foi novamente recitado por José Eduardo da Costa Mota. Do seu autor, nada sabemos, a não ser que o assinou com um simples Y.
O pregão deste ano, especialmente curto (52 versos), apenas desempenha a sua função de anúncio do programa da festa do dia seguinte (Haverá bailes e vistosas danças; / Usarão uns brancas e longas tranças, / Uns bem calçados, outros em soletas, / Uns mui direitos, outros em muletas) e de aviso ao “boçal tunante” que ousasse intrometer-se na festa, violando o privilégio dos estudantes (Levará murro até doer a mão. / Se nos folguedos vem meter nariz, / Vai do Toural ao tanque ou chafariz, / Do clarim ao som, do tambor ao toque / Ali tomar então o fresco choque).
Neste ano ainda houve festa e o chafariz ainda estava no Toural. Mas seria por pouco tempo…

Bando Escolástico
Recitado no dia 5 de Dezembro de 1872
POR
JOSÉ EDUARDO DA COSTA MOTA

Alerta! salve, Guimarães vetusto!
Alerta berço nobre, berço augusto
Do belicoso Afonso, rei amado.
Surge! que o fausto dia é já chegado
Em que a juventude ao estudo dada,
De folhear os livros já cansada,
Renova a Nicolau antigo preito,
Que de Minerva os filhos têm-lhe feito.
Passara o ano em aturado estudo
O estudante pensativo e mudo,
– Estudo tanto, tão acerba lida,
Que angustia tanto nossa vida:
Nicolau quer por isso que o seu dia
Seja ao prazer só dado e à folia.
Quando a aurora despontar fulgente
A espreguiçar-se no prado, indolente,
Ouvirás hino alegre, mui festivo,
Dos de Minerva filhos privativo.
E vós, ó meigas e fagueiras estrelas,
Que fulgurais tão radiosas, belas,
Da nossa existência no firmamento
Iluminando-nos o pensamento,
Amanhã, quando o sol já sobre os montes
Se retratar nas cristalinas fontes,
Recebereis de nós mimosa prenda
Ao voltar bem contentes lá da renda:
– Bela maçã, daquela mais corada,
Loura castanha muito bem assada,
Ramos de flores, – de fragrantes rosas.
Por nós colhidas no jardim viçosas.
Ao recebê-las, juras mil, protestos
Vos serão feitos por palavras, gestos,
Que vos infundam na alma amor intenso,
Apaixonado, fervoroso, imenso,
Agora vamos ao que ainda resta,
Que é o programa que é a lei da festa,
Haverá bailes e vistosas danças;
Usarão uns brancas e longas tranças,
Uns bem calçados, outros em soletas,
Uns mui direitos, outros em muletas.
Agora a lei: – Se algum boçal tunante,
Com ar altivo de servil pedante,
Vier tomar parte na festa nossa,
Lhe será feita desbragada troça;
Afinal, exposto à nossa irrisão,
Levará murro até doer a mão.
Se nos folguedos vem meter nariz,
Vai do Toural ao tanque ou chafariz,
Do clarim ao som, do tambor ao toque
Ali tomar então o fresco choque.
A vós, ò sócios meus, altivo mando
Que no tambor anuncieis o bando.
Y.

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