Milagre de S. Nicolau |
Aparentemente,
a facção dos estudantes que saiu vitoriosa do conflito de 1870 foi a que tomou
partido pelos estudantes “modernos”. Assim de depreende do facto de o autor do
pregão de 1871 ter sido escrito por A. M. Ferreira, o autor de um dos pregões
do ano antecedente e também do “improviso alegórico” Mais um contrapeso, lido no dia 6 de Dezembro.
No
pregão de 1871, que foi lido por José Eduardo da Costa Mota, não faltam as
alusões às dissensões do ano anterior, com referências aos traidor e aos que
pretendam fomentar divisões entre os estudantes (que deveriam desenganar-se - Que os filhos de Minerva e não de Marte…
/ Um só partido têm um só estandarte!).
BANDO ESCOLÁSTICO VIMARANENSE
Recitado no dia 5 de Dezembro de 1871
por
JOSÉ EDUARDO DA COSTA MOTA.
Chegaram,
nobre classe, aí estão risonhos.
Os dias
suspirados di teus sonhos!...
Os dias
jubilosos, que vêm ledos,
Aos jovens
escolares trazer folguedos.
Que
entusiasmo aqui vai! que dia grande!
Exulta Guimarães de ver teus filhos
Ostentar
tantas galas! tantos brilhos,
Descerraram-se
alfim os horizontes!...
É tempo de
limparmos nossas frontes,
Das bagas de
suor de seus trabalhos!...
Que assim
como à flor vêm os orvalhos,
Dar viços,
que roubou o ardor da sesta.
Assim para
nós vem esta festa,
Compensar do
estudo agras fadigas…
Mas cessem
de uma vez nojentas brigas!...
E longe de
caprichos pertinazes…
Em laços
cordiais, cantem-se pazes:
É justo que
bem se amem de alma e vida…
Aqueles que
se abraçam nesta lida.
Dizei ao traidor que se envergonhe!...
Não haja
ninguém mais aí que sonhe
Revoltas entre nós que alguém fomente!...
Se tais nos
alcunhar direi: – que mente!
Que os
filhos de Minerva e não de Marte…
Um só
partido têm um só estandarte!
Em norte, um
nobre fim! sua divisa.
É a ciência
é o sol que diviniza!...
. . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Que teve
feia mão do esquecimento
De amargas
decepções de ressentimento!
Esfriem da
vingança esses calores!...
As rixas que
lá vão, sentidas dores…
Sepultem-se
bem fundo: no abismo!
Que não
venham toldar o brilhantismo,
Da festa,
amados filhos da ciência,
Toda risos
de amor, toda inocência!...
Um hino só
por nós todos se cante!
Que vá
vibrar nos seios que palpitam,
Brilham
naqueles olhos que nos fitam,
Dizer a mais
alguém que nos escuta…
Que logo que
bem se ama não se luta
. . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Sim vós,
mimos de amor, cândidas rosas!...
Só tu e
ninguém mais connosco gozas,
De mais que
singular prerrogativa!
Em troca
desse olhar que nos cativa,
Desse fogo
abrasador com que nos crestas
Dos brilhos,
que aos festejos nos emprestas,
Dum sorrir
de atracção tão magnético,
Desse olhar
tão sublime e tão sintético!...
Que bela e
sedutora tu resumes,
Estrofes mil
de amor de mil perfumes…
Quebrareis
amanhã, tanto por tanto
Mimosa
recompensa doce encanto,
E em vez da “tal mezinha milagrosa…”
Colhereis lá
da renda misteriosa
A maçã
rubicunda mensageira.
Engenhosa e
sublime alcoviteira...
Que faremos
servir substituta.
Da moça mais
discreta e mais astuta...
. . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Mas alto!
Que esta glória a nós só cabe!...
A lei é bem
notória e bem se sabe,
Que é posse
privativa do estudante;
Se porém
houver tal que se levante,
Contra leis
tão sagradas tão vetustas!...
Sentirá
quanto podem, mãos robustas.
Em casos
melindrosos de capricho!...
Por entre canelões de criar bicho…
Se
tentar!... o nosso homem… fique
certo!...
O Selho corre aí fica-nos perto,
Se alguém,
que tão tapado não traduz,
Na diferença
que vai da treva à luz,
A simbólica
imagem da distância,
Que separa o
saber da ignorância,
Quiser, de
saliente e de pimpão,
Usurpar um
lugar nesta função,
Incensos vir
de amor queimar nesta ara
[lacuna]
Ter para si
lição severa
Que não se
calca assim a pé enxuto
O mais
sagrado artigo do estatuto!...
Mas se algum
tão feliz, como imprudente,
Lá se pode safar pela tangente,
Contrabando envolvido em
turba multa
Quer saber o
conceito que resulta,
De tal feito
a glória que lhe fica?...
E de bota
passar a ser futrica...
E disse. –
Uma coisa só me falta:
– Notar a
esse herói de grei tão alta,
Ao digno
protector de botequins,
A bossa regateira de pasquins,
(É mister
duma vez que se convença)
Não passa
além das garras da indiferença
Seu Pégaso
rasteiro e insolente!
É tosco!
grosseiro! indecente!
E os fundos
com que tanto se proeja...
Não deixam
entre nós ficar inveja!...
É sim de
lamentar que génios cultos…
Esbanjem seu
saber em vis insultos!
E quem por
uns tais modos de tal sorte,
Busca a
imortalidade encontra a morte.
. . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Mas onde
irão parar as curtas vistas
Desses
parvos, (duma vez) desses fadistas?!...
- (ora limpem-se a este guardanapo)
São zelos a
ferverem-lhe no papo…
De não terem
quinhão no que outro gasta
Aí têm o seu
pesar… Adeus… e Basta…
A. M.
Ferreira.
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