Sagração de S. Nicolau como bispo |
As
festas a S. Nicolau do ano de 1870 foram marcadas por desavenças entre os
“estudantes modernos e veteranos”. No jornal Vimaranense, escrevia-se a 18 de Novembro:
“Os
filhos de Minerva, deusa da ciência e da guerra, parece que preferem a última.”
Nesse
ano houve duas comissões de festas e as dissensões entre os estudantes levaram
a que se temesse pela ordem pública, levando o administrador do concelho e o
comandante do Regimento de Infantaria 6 se viram obrigados a intervir como
mediadores.
Vai
daí, de 1870 conhecemos três pregões.
Neste
ano, a festa, por força de tanta animação, foi classificada na imprensa como “excepcionalmente
brilhante”.
Um
dos pregões foi escrito por alguém que se assina como R. D. e foi declamado por António Joaquim de Sousa Agra.
BANDO ESCOLÁSTICO
Recitado no dia 5
de Dezembro de 1870
POR
ANTÓNIO JOAQUIM DE
SOUSA AGRA.
De Lícia filhos,
amados portugueses.
Madrilenos,
prussianos e franceses,
Habitantes da Zona
e Equador,
Escutai o soar
desse tambor,
Que vai de
Guimarães até Lisboa,
A Londres, a Pequim
e mais a Goa
Anunciar um dia sem
igual,
De Nicolau o dia
festival,
Em que vereis
função maior que dantes,
À custa dos
pequenos estudantes,
Mas tão grande que
os velhos vão dizer
“Festa assim nunca
mais vimos fazer”.
Nosso programa é
grande, é imponente.
Nem se pode dizer a
toda a gente.
- Em cavalgata
linda e estrondosa
Andará a mocidade
estudiosa
Percorrendo as ruas
e as praças,
Entretendo a todos
com chalaças.
Há-de ser um bom
dia de venturas
Sem haver da
tristeza as amarguras.
Mas e a dama as
tiver por um momento,
O estudante
dar-lhe-á medicamento.
Parcas lindas, e
belas, e formosas,
Ou sejam sanguíneas
ou nervosas,
Moléstia de há
muito em moda usada.
Mas ainda até hoje
não curada,
Só o estudante
neste dia goza
Um remédio, mezinha
milagrosa,
Que a todas as sara
das bexigas,
Força de sangue,
flatos e lombrigas.
No pomo que lhes dá
pela manhã,
E que o papá julga
ser linda maçã,
Vai lá o coração e
vai o amor,
Tudo mais que para
as damas for melhor.
E depois pelas
praças da cidade,
Dançará a flor da
mocidade,
Danças novas,
prussianas e francesas,
Russianas e turcas
e inglesas,
Tudo isto com brio
e gosto novo,
Que espante a
fidalguia e mais o povo.
Agora uma coisa
ainda resta,
É notar o
privilégio desta festa.
Que não haja
atrevido ou tratante,
Que venha cá sem
foros de estudante.
Nós temos um
carvalho ou um sobreiro,
Para todo o
atrevido ou brejeiro.
Que tentar vir
meter os seus focinhos,
Na festa de
estudantes pequeninhos.
Apesar de pequenos,
são estudantes,
Têm forças e braços
de gigantes
Para dar
cachafundos ao nariz
Do palerma!.. do
Toural no chafariz.
É esta a pena que a
história atesta
Privilégio adido a
esta festa:
Excepto se a santa
liberdade
Quiser roubar tal
gozos à mocidade.
Agora, eia, filhos
do estudo.
Com bombos e tambor
atroai tudo,
Que ninguém duvidar
ainda possa
O quanto vale e
pode a gente nossa.
Estudantes, olhai
para as janelas,
E fazei a despedida
às damas belas.
Eu ao povo e a suas
Senhorias
Desejo boas tardes
ou bons dias.
R. D.
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