Pin com S. Nicolau (Holanda) |
O jornal Gazeta do Minho, que naquela altura se
publicava em Guimarães, em substituição do Religião
e Pátria, que estava suspenso, descreveu o bando escolástico de 5 de
Dezembro de 1865 nos seguintes termos:
De tarde
saiu o bando, acompanhado de grande número de estudantes mascarados, que
formavam o préstito de tambores, O bando, que foi recitado por o inteligente mancebo
o sr. António José Ferreira Caldas Júnior, é composição do nosso amigo snr.
José Ferreira Mendes de Abreu.
Como se vê, em 1865 repetiram-se o autor e o pregoeiro do ano anterior. Este foi o oitavo, e
último, pregão escrito José Ferreira Mendes de Abreu (Fatinho).
BANDO ESCOLÁSTICO
RECITADO NO DIA 5
DE DEZEMBRO 1865
POR
ANTÓNIO JOSÉ
FERREIRA CALDAS JÚNIOR.
O sonoro clangor da
tuba ingente
Reboa já no espaço
brandamente,
E, tão doce, o seu eco precursor
Nos vales repercute
encantador.
Ah! surge
Guimarães! alegre escuta
O faustoso sinal da
festa augusta,
Que no delírio
corações expande
De Nicolau no dia
sempre grande,
De que tu só
conservas a memória,
Com entranho
esplendor e estranha glória,
Em breve, no
horizonte, radiosa,
A matutina estrela
luminosa,
Surgirá, como
sempre, fulgurante,
Ostentando seu
brilho deslumbrante;
E, por seu turno, a
meiga natureza,
Para a festa tornar
de mor grandeza,
Virá com seus
encantos e primores
A terra encher de
cândidos amores:
E tu, ò Guimarães,
com voz festiva
Soltarás forte e
jubiloso viva,
Saudando a festa só
de filhos teus,
Que nenhuma cidade
tem para os seus.
Veste, pois, tuas
galas mais custosas,
E junca as ruas de
purpúreas rosas,
E com entusiasmo
delirante
A tenra juventude
acolhe ovante,
Que, formada em
vistosa cavalgada,
Em teu seio fará
solene entrada,
Mostrando às belas,
com sinais visíveis,
De amor sincero
provas infalíveis,
Manifestas por
firme documento
De verdadeiro e
puro sentimento,
Numa linda maça
simbolizado,
E em notas
indeléveis registado.
Aqui tendes,
formosas, em relevo,
Os extremos de amor,
e o doce enlevo,
Que vos torna
cativas, de alma e vida,
Duma paixão às
vezes mal nascida!
E vós, filhas
de amor, sereis descrentes?!...
Sereis, a tantas
provas, indiferentes?!
Oh! não... de
Nicolau o fausto dia
Sempre mereceu a
vossa simpatia:
Amanhã, pois,
tereis, em recompensa,
De gratidão sincera
prova imensa;
Que a festa de amanhã
dos estudantes
As regalias tem,
que tinha dantes.
E não pense por aí
casquilho insulso
Vir extremos de amor
render avulso;
Não se arroje a
meter o seu nariz...
No Toural ainda
existe o chafariz,
Onde se aplica com
rigor a pena,
Que na lei
escolástica se ordena
Aos transgressores
de qualquer artigo
Dum código sublime
e mui antigo:
E se o progresso
resolver a glória
Daquele chafariz
passar à história,
Tomar-se-á o
transversal caminho
Em direcção à poça
do Toucinho.
Está ditada a lei,
notória a festa:
A vós, colegas,
cabe o mais que resta:
Fazei soar zabumbas
e tambores;
Escute Guimarães e
seus redores
Os sinais
manifestos de alegria,
Que saúdam de
Dezembro o sexto dia.
J. F. M. de Abreu.
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