O Abade de Tagilde, numa caricatura de José de Meira, da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento |
6 de Abril de 1898
A Câmara Municipal deliberou publicar "Os
Anais do Município" conforme a proposta dos seu vice-presidente Antero de
Campos da Silva. Eu, J. L. de Faria publiquei esta notícia no nº 175 do
"Independente" da seguinte forma " A Câmara aprova a proposta do
vice-presidente, dr. Antero de Campos da Silva, de mandar publicar "Os
Anais do Município". A execução desta proposta deve principiar brevemente,
pois que o distinto arqueólogo, Exmo. Abade de Tagilde, desde muito tempo há
sido incansável em adquirir da Torre do Tombo, e outros arquivos, documentos
respeitantes a este município, de que já tem boa colheita, e que o mesmo senhor
é actualmente Presidente da Câmara e da direcção da Sociedade Martins Sarmento
a quem foram confiados os trabalhos desta publicação.
(João Lopes de Faria, Efemérides Vimaranenses, manuscrito da Biblioteca da Sociedade Martins
Sarmento, vol. II, p. 17)
João Gomes de Oliveira Guimarães, o
Abade de Tagilde, é o pioneiro dos estudos modernos da História de Guimarães.
Enquadrado na Sociedade Martins Sarmento, dedicou-se à pesquisa, à decifração e
à divulgação da nossa história local, decifrando os seus documentos, num
percurso que vai desde a criação da Revista de Guimarães, em 1884, até ao fim dos
seus dias, em 1912.
A sua obra mais ambiciosa foi a
recolha, transcrição e publicação dos Anais
do Município de Guimarães, resultante de uma decisão da Câmara Municipal de
6 de Abril de 1898. A tarefa foi-lhe proposta pela Sociedade Martins Sarmento,
que havia sido encarregada de concretização do projecto, que o Município custearia. Durante mais de uma década, o Abade de Tagilde trabalhou na
recolha dos documentos históricos vimaranenses, desde as eras mais remotas.
O primeiro volume dos Vimaranis Monumenta Historica veio a lume no ano
de 1908. Reúne 353 documentos medievais, cobrindo o período entre os anos 870 e
1380. A morte, que levou o Abade de Tagilde em 1912, impedi-lo-ia de concluir este projecto grandioso. Pretendia que João de Meira prosseguisse a obra, o que, mais uma vez, a morte impediu: o jovem professor de medicina faleceu no ano seguinte, quando contava apenas 32 anos. E, desde há
mais de um século, os Anais do Município
continuam à espera de quem os continue.
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