Ao Conde da
Calheta, senhorio das casas do autor, na ocasião em que endoideceu o boticário
deste fidalgo por causa de certo namoro.
Eu apostei, senhor, a qual
primeiro
(Foi aposta entre mim e o
boticário)
Qual seria de nós ou preso ou
vário,
Se ele por ter mulher, se eu por
dinheiro:
Nem eu, nem ele achar melhor
parceiro
Foramos, inda ao espaço
imaginário;
Que ele perdeu a ciência de ervanário,
E eu a fé em que estou de bom
caseiro.
Andou connosco o tempo fementido;
Tirou-lhe a moça a ele um moço
belo,
E a mim deu-me um semestre já
vencido:
Com que, meu Conde, para vós
apelo:
Que ele está no hospital a bom
partido.
Mas eu quase entre os pobres do
Castelo.
Neste soneto, o Lobo da Madragoa dirige-se ao seu
senhorio, o Conde da Calheta, José de Vasconcelos e Sousa Câmara Caminha Faro e
Veiga, comentando o estado mental do seu boticário, que endoidecera de mal de
amores enganados, aproveitando para lhe pedir indulgência quanto aos seis meses
de renda que levava em atraso.
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