As poesias de António Lobo de Carvalho (7)


Ao Conde da Calheta, senhorio das casas do autor, na ocasião em que endoideceu o boticário deste fidalgo por causa de certo namoro.

  
Eu apostei, senhor, a qual primeiro
(Foi aposta entre mim e o boticário)
Qual seria de nós ou preso ou vário,
Se ele por ter mulher, se eu por dinheiro:

Nem eu, nem ele achar melhor parceiro
Foramos, inda ao espaço imaginário;
Que ele perdeu a ciência de ervanário,
E eu a fé em que estou de bom caseiro.

Andou connosco o tempo fementido;
Tirou-lhe a moça a ele um moço belo,
E a mim deu-me um semestre já vencido:

Com que, meu Conde, para vós apelo:
Que ele está no hospital a bom partido.
Mas eu quase entre os pobres do Castelo.

Neste soneto, o Lobo da Madragoa dirige-se ao seu senhorio, o Conde da Calheta, José de Vasconcelos e Sousa Câmara Caminha Faro e Veiga, comentando o estado mental do seu boticário, que endoidecera de mal de amores enganados, aproveitando para lhe pedir indulgência quanto aos seis meses de renda que levava em atraso.

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