Ao Il.mo
e Preclaríssimo Senhor Fernando de Larre Garcês Palha de Almeida comunica uma
estafada Musa o estado em que se acha neste Carnaval.
Que me importa a mim ver dependurada
Em torto gancho na Ribeira velha
A fressura de um porco, ou a cernelha,
Sem pena uma perdiz, outra
emplumada?
Que me importa a chouriça tão
delgada,
Que ao junco de um meirinho se
assemelha,
Nem outra, que a pregão anda na
celha,
Que é com sangue de burro
argamassada?
Que importa isto, se um homem sem
dinheiro
Com a alma torta, o gesto
carrancudo,
A rogar pragas passa o ano
inteiro?
Nada, senhor; mas quero dizer
tudo:
Só tenho os pés dum covo no
fumeiro, (*)
Só as botas que trago são do
entrudo.
(*) É o
boticário vizinho do senhor Conde da Calheta, que está sempre com os pés ao
lume.
Outro soneto que António Lobo de
Carvalho dirigiu a Fernando de Larre, quando apertado pela necessidade de
dinheiro e de umas botas novas.
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