José de Sousa Bandeira |
Te Deum
Laudamos (A Vós, ó
Deus, louvamos) é um hino litúrgico católico geralmente atribuído a
Santo Agostinho e a Santo Ambrósio, de que se conhecem inúmeras versões
cantadas, que costumava ser cantado em momentos de congratulação. Os
acontecimentos políticos, muitas vezes antagónicos, eram motivo frequente para
que houvesse Te Deum cantado nas
igrejas, com solenidade e pompa. O confronto político entre liberais e absolutistas,
entre 1820 e 1834, fez com que este tipo de celebração litúrgica se
banalizasse. Por tudo e por nada se cantava o Te Deum, hino que, naqueles tempos, muitas vezes se entoou na
igreja da Colegiada, ora a celebrar vitórias dos liberais, ora em congratulação
pelos avanços dos miguelistas. O hino era o mesmo, os cantores eram quase
sempre os mesmos, mas o louvor a Deus erguia-se por motivos sucessivamente
contraditórios.
Observador atento da realidade do seu tempo, José de Sousa Bandeira
usou a sua pena sarcástica para satirizar a moda do Te Deum Laudamos, num soneto que publicou no jornal Artilheiro:
Se governa
o Junot, na Sé se entoa
Te Deum aparatoso,
e reluzente:
E se triunfa
o príncipe regente
Político
Te Deum na Sé lá soa.
Tem o
lord Te Deum, se despovoa,
Se atrasa,
assola o Portugal gemente;
E se o Douro
dá leis à Lusa gente,
Apressado
Te Deum na Sé ecoa.
Temos Te
Deum se a liberdade assoma;
E se morre,
há Te Deum; se surge a triste
De devotos
Te Deum que imensa soma!
Té se há
sangue, há Te Deum! Porém tu riste,
Não vês que
da cristã moderna Roma
A santidade nos Te Deums consiste!
Artilheiro,
n.º 110. de 21 de Maio de 1836
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