Pregões a S. Nicolau (19): 1849



S. Nicolau
Em 1849, João Machado Pinheiro (Pindela) compôs o pregão, pela terceira vez. Foi declamado por Sebastião da Costa Vieira Leite (Padre Sebastião, poeta).


Bando escolástico - 1849

Que importa do pesar sentir o corte,
Se um dia o prazer nos cabe em sorte?
E que importa viver entre amarguras,
Se um dia as cortar doces venturas?
Assim ò Guimarães, vais num só dia
Esquecer essa dor, essa agonia.
O dia de amanhã entre folgares
Vai dum ano pagar-te esses pesares;
Dia de Nicolau, do nosso Santo,
Que nossos corações cobra de encanto.
Guimarães é chegado o aniversário
Do grande Nicolau! O Calendário
Não conta santo de maior valia;
Honremos todos pois tão fausto dia:
Soem hinos a santo tão clemente.
Das nove filhas desse Deus potente
Invoque cada qual a que mais ama,
E ornada a fronte de viçosa rama,
Espalhe-se o prazer por toda a parte.
Guimarães eu escuso de lembrar-te
Que o dia de manhã, dia de gala
É todo para nós, mais ninguém fala.
Preparai-vos pois todos para escutar
A Ordem de amanhã, que passo a dar:

Taful, mete-te em casa: neste dia
Não podes partilhar nossa alegria:
É para quem de Minerva as leis adora,
Não para quem só passeia anda, e namora,
Não te venhas meter a taralhão,
Que te pode ficar cara a lição...
E ai pobre de ti, se ousado intentas
Para te disfarçar cobrir as ventas,
Que entre canelões vais em charola
Ao Tanque do Toural molhar a bola.

E vós, graças gentis, que a terra ornais,
A quem a dor, o rir, o pranto, os ais
E todo todo viver é consagrado
Dum peito, que vos tem amor jurado
Vinde, vinde amanhã tornar, ò belas,
Áureo trono de amor essas janelas;
E quando o Estudante, ardendo em gozo
O pomo vos brindar lindo, e formoso,
Falai com terno olhar que só vos cabe,
Que só um coração traduzir sabe,...
Falai belas, falai que um vosso olhar
Só o sabe entender quem sabe amar

E vós a quem de amor a ardente chama
Gelados corações já não inflama
Ah! fugi amanhã, fugi de ver
Como só entre nós reina o prazer
Não queirais que vos morda o coração
Lembranças desses dias que lá vão…
E para mitigar mágoa tão dura,
Castanhas heis-de ter em tal fartura,
Que em doce embriaguez, e em memória
O passado para vós seja uma história.
Agora sócios meus eia! Marchemos
E com o som do tambor tudo atroemos
É preciso que saiba a terra, o mar,
Que amanhã para nós há só gozar;
Para que tudo então brade à porfia
Ditosa Guimarães eis o teu dia.
                                                      J. M. Pinheiro

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