S. Nicolau |
O pregão de
1843 foi escrito, novamente, pelo Padre Francisco Faria da Bornaria, sendo
recitado por Manuel José Salgado. O pregão, sem fugir ao modelo que se vinha a
consolidar ao longo dos anos, tanto podia ser lido naquele ano, como noutro
qualquer. Nesse sentido, seria intemporal, uma vez que não faz referências
concretas a acontecimentos ou ao quotidiano de 1843. Cumpriu, simplesmente, a
sua função: anunciar a festa que teria lugar no dia seguinte.
Não
obstante, deve-se notar que é neste pregão que se faz, pela primeira vez, a
carros ornamentados no cortejo do dia de Nicolau (Lá vêm ornados carros consonantes, / Com harmónica e alegre melodia / Exibições
e farsas de alegria. / Esta vila amanhã é um paraíso, / Gosto tudo será, prazer
e riso).
Bando escolástico – 1843
Os ecos
festivais eis retumbando,
Ò povos
escutai o alegre bando,
Que função
sem igual vos anuncia
Neste a vós
dedicado grande dia.
Nossos votos
ouvi, Nicolau santo,
Junto ao
supremo trono sacrossanto,
Onde com
indizível claridade
Pão visível
se mostra a Divindade.
Os vossos
benefícios sempre grata,
Ansiosa a
juventude se precata.
Como brilha
amanhã só o estudante
Dos clarins
soa o eco altissonante.
Mais ao longe,
atendei, ò habitantes,
Lá vêm
ornados carros consonantes,
Com
harmónica e alegre melodia
Exibições e
farsas de alegria.
Esta vila
amanhã é um paraíso,
Gosto tudo
será, prazer e riso.
Se não fosse
este tão glorioso dia
Dos estudos
o afã quem sofreria?
Quem a
estalante palmatória,
Para avivar
a agudeza e a memória?
Às unhas!
brada e tremebunda soa.
Essa voz
magistral, que tanto atroa.
Quanto tem a
lidar o entendimento,
Nessa arte
que dirige o pensamento?
Subtil o
metafísico se esmera
Em
demonstração tanta e tão severa.
Com ornada
facúndia vem Romano,
Difícil
fraseador, Quintiliano.
Ò belas,
deste dia que sois alma,
Sem retórica
ter, levais a palma;
Oradoras
sois, natural falando
E os nossos
corações arrebatando.
Não pára
aqui do estudante a lida
Consome as
forças, o alento, a vida
Nas leis, na
moral, e sacra teologia,
Sublime e
divinal sabedoria;
Sem o seu
bem dizer, pensar profundo,
Nação,
direito e paz não via o mundo.
E pensavas
competir connosco avante
Sem aulas
frequentar, rude pedante?
Em sessão, nossa
junta veneranda
Com severo
rigor decreta e manda:
Sem ao menos
assídua frequência
Por inteiro
semestre e com decência,
Algum que
fosse já controvertido,
Da nossa tão
alta função será banido.
Madamas, não
penseis que me esquecia
De
testar-vos amor e simpatia.
Aqui tens,
minha amada, o teu amante
Que pede em
recompensa amor constante.
Eu chamo a
todas vós, moças solteiras,
Aparecei-nos
galhardas, faladeiras.
Em nossos
corações acendei chamas,
Nos vossos
respondei lindas madamas:
Como sorris
à ode do casamento,
Da função de
amanhã sede ornamento,
Com quem
simpatizar o vosso agrado,
Nicolau
abençoará o nó sagrado.
Casquilhos,
alto lá! vão escutando:
Respeite-se
amanhã o nosso mando.
Algum de
vestezinha estrangeirada,
Usurária,
perjura caixeirada,
Qualquer outro,
que seja delinquente,
Mergulhado
no tanque é de repente.
Podem, sim,
desfrutar festejos vários,
Mas só os
estudantes funcionários.
O tambor
anunciando, siga avante,
O dia em que
só brilha o estudante.
FIM
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