O Claustro de S. Domingos (Museu da Sociedade Martins Sarmento), numa fotografia do início do século XX. O piso superior foi mandado erguer por Martins Sarmento. |
No
número especial que o jornal O Progresso dedicou a Francisco Martins Sarmento e que se publicou no dia em que o arqueólogo completou 65 anos, o seu amigo José Sampaio
escreve um texto em que conta a história das obras de adaptação das ruínas do
velho claustro do antigo convento de S. Domingos, tendo em vista a instalação
do Museu Arqueológico da Sociedade Martins Sarmento no local onde ainda hoje se encontra. Aqui fica.
Ia a apostar em como ninguém dirá que o snr. Sarmento é também um empreiteiro de construções.
Pois
é-o, e tão distinto que nenhum outro jamais o igualou.
E
aí vai a prova.
Por
concessão do governo, veio a poder da Sociedade Martins Sarmento o velho e
arruinado mosteiro de S. Domingos.
Do
seu claustro existia apenas a arcaria; tudo mais tinha desaparecido. E a
arcaria, uma jóia preciosa de arquitectura gótica, desprendida da parte
principal do edifício, principiava a inclinar-se para a terra na melancolia de
uma verdadeira ruína.
Condoeu-se
dela o snr. Sarmento com o seu amor pelos monumentos da antiguidade, e na sua
fantasia brilhou a ideia de que, amparada, podia ser formoso sustentáculo para
as galerias dum museu arqueológico.
Planeou
a obra, chamou em auxílio o major Inácio de Meneses, um amigo seu muito
predilecto e engenheiro de largos conhecimentos artísticos, que logo debuxou o
alçado e levantou as plantas.
E
depois... Depois, a Sociedade estava sem vintém. Tinha esgotado todos os
recursos em recompor o resto do edifício para instalar a biblioteca…
O
snr. Sarmento resolveu a dificuldade. Tomou, por escritura pública, a
empreitada da obra, com a cláusula de receber o custo em prestações anuais.
Realizado
o contrato, pôs tudo em movimento. Apruma-se a arcaria, levantam-se as paredes
laterais com finos lavores nas portas e janelas, vai-se enfim convertendo o
projecto em realidade.
Neste
em meio chega o vencimento da primeira prestação da empreitada. Os directores
da Sociedade, honrando o seu compromisso, querem pagar, mas o empreiteiro
recusa-se a receber! Não recebe - que isso se aplique às estantes do museu.
Vencida
a segunda, vencidas as outras prestações, concluída o obra, passa quitação e
não recebe!
E
digam-me se haverá outro empreiteiro que o iguale?
José da Cunha Sampaio.
O
Progresso, n.º especial, Guimarães, 9 de Março de 1898
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