O antigo convento de Nossa Senhora da Conceição, em Braga, numa fotografia do final da década de 1930 |
No tempo em que os também conventos funcionavam como
reguladores da transmissão dos patrimónios familiares, eram os lugares para
onde, preferencialmente, se enviavam as filhas das boas famílias para as
quais não se arranjava um casamento à altura da sua condição social. Não será,
por isso, de admirar que, estando os conventos bem fornecidos de raparigas e de
mulheres sem especial vocação para o recolhimento religioso, abundem as
histórias de freiras que acolhiam nas suas celas visitas masculinas, que usavam de especial engenho nas artes de violar a clausura. Muito já se contou
acerca dos namoros furtivos das freiras de Santa Clara de Guimarães, por
exemplo. O nosso poeta António Lobo de Carvalho, ele próprio, ao que parece,
frequentador dos deleites dos conventos, costumava zurzir nos freiráticos,
sendo particularmente célebre o soneto que se segue:
Diálogo
entre um penitente freirático e um confessor casmurro
A um
fradallhão bojudo e rabugento
Seus crimes
confessava um desgraçado,
E entre eles
dizia ter pecado
Com uma
santa freira num convento:
Grita o
frade: Não tardam num momento
Raios mil,
que subvertam tal malvado;
Que as
esposas de Cristo há profanado
No santo
asilo seu, sacro aposento!
Ora diga,
infeliz, como ousaria
Tal crime
confessar, e acções tão brutas
A Jesus
Cristo, lá no extremo dia?...
Padre,
deixemos pois essas disputas;
Se ele me
perguntasse, eu lhe diria:
Quem vos manda senhor casar com putas?
Mas nem sempre os protagonistas das transgressões à clausura dos recolhimentos de freiras tinham final feliz. Esse foi o caso de Bento de Melo, pajem do
arcebispo de Braga que, no ano de 1633 frequentava clandestinamente os
aposentos de uma certa freira do Convento da Senhora da Conceição, em Braga.
Tendo sido surpreendido, seria preso pelas religiosas, que o queimaram e o enterraram, tentando ocultar o acontecido.
Encontrei esta história em duas cartas de Filipe III, publicadas por José
Justino de Andrade e Silva na Collecção Chronologica da Legislação
Portugueza. A partir desses documentos, ensaiei uma reconstituição do
infortúnio do pajem do Arcebispo, que saiu no jornal O Povo de Guimarães
de 23 Julho de 1981, e que agora partilho. O texto pode ser descarregado aqui:
António Amaro das Neves, Queimado Vivo num Convento de Freiras - A História de Bento de Melo, pajem do Arcebispo (Braga, 1633)
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