Aquando da
trasladação dos seus restos mortais para o cemitério de S. Salvador de
Briteiros, em 1904, Francisco Martins Sarmento foi objecto de diversas
homenagens. A revista Ilustração Portuguesa dedicou-lhe uma capa, que acima se reproduz, onde, além do retrato
do arqueólogo, aparecia o seguinte texto:
O ilustre arqueólogo,
cujo cadáver acaba de ser trasladado para um magnífico túmulo do cemitério de
Briteiros perto de Citânia, a histórica cidade que ele descobriu após escavações
trabalhosas, nasceu era Guimarães a 9 de Março de 1833. Foi um erudito e um sábio
que criou um nome ilustre entre os arqueólogos de todo o mundo. Dedicou a sua
vida a estes trabalhos, sendo adorado pelo povo de Guimarães que o via passar
para a aldeia com o seu lenço branco no pescoço, meditativo e grave na cogitação da sua obra, que é imensa e que levou a
cabo à custa de esforços sem conta.
Quando Camilo
Castelo Branco andou fugido por ocasião do caso Ana Plácido recolheu-se alguns
dias em casa de Martins Sarmento e dedicou-lhe o prólogo do seu livro No Bom Jesus do Monte, lugar para o
grande romancista bem cheio de recordações, pois fora ali que ele, após um ano
de torturas, foi encontrar essa tão amada Ana Plácido.
Martins Sarmento,
respeitado pelos sábios, querido pelos literatos, deixou uma reputação de
erudito que poucos igualam e após tantos anos de trabalhos e lutas brilhantes,
na imprensa em livros, foi condecorado com o hábito de S. Tiago, que ele não aceitou,
dizendo aos amigos que lhe perguntavam o motivo da recusa, que tal condecoração
já não cabia no cofre dos seus diplomas. Faleceu em 9 de Agosto de 1899 e foi
repousar no seu jazigo, que é uma obra de arte no cemitério do Briteiros, quase à sombra da sua querida
Citânia tão laboriosamente arrancada da acção dos séculos e tão eruditamente
reconstruída para gáudio dos estudiosos.
Ilustração Portuguesa, n.º 37, ano I, 18 de Julho de 1904
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