Inocêncio Francisco da Silva (1810 –1876) começou a
publicar em 1858 o seu monumental Diccionário bibliographico
portuguez: estudos de Innocêncio Francisco da Silva aplicáveis a Portugal e ao
Brazil, conhecido
geralmente como “o Dicionário de Inocêncio”, onde traça, de modo sistemático, a
vida e a obra dos escritores de língua portuguesa. Após a sua morte seria o seu
testamenteiro, Pedro Wenceslau de Brito Aranha (1833-1914), o continuador so
seu projecto. É composto por 23 volumes. Iremos publicar aqui, nos próximos
tempos, os verbetes do Dicionário onde são tratados os autores vimaranenses.
AGOSTINHO ANTÓNIO DO SOUTO,
natural de Guimarães, nasceu a 25 de Fevereiro de 1825, filho do cirurgião
Manuel José do Souto. Seguiu o curso da Escola Médico-Cirúrgica do Porto, que
concluiu com distinção em 1845; depois matriculou-se na Universidade de
Coimbra, fazendo ali brilhantemente os cursos de filosofia e de medicina,
recebendo o respectivo grau em 1858. Em seguida habilitou-se para entrar na
Escola Médica do Porto, onde foi colocado como substituto no mesmo ano. Em 1867
era já lente proprietário da cadeira de química orgânica. Em 1871 foi pelo
Governo encarregado de desempenhar uma importante comissão científica na
América do Sul, e aí teve ocasião de se habilitar a exercer clínica com
proveito. Regressando à pátria, reassumiu as suas funções na Escola do Porto,
onde deixou discípulos que o honraram.
Entrou em várias controvérsias
científicas, sendo as mais notáveis a que se referia à célebre questão Urbino
de Freitas, já mencionada neste Dicionário, e do caso da entrada dum
enfermo para o hospital de alienados do Conde de Ferreira, em que entraram
diversos clínicos portuenses, de que resultaram alguns opúsculos. Não faço
menção deles porque não os possuo, mas os vejo registados no Anuário da
Faculdade de Medicina do Porto, em 1911. Saindo da vida activa, e não pouco
honrosa em longa carreira, retirou-se para a Figueira da Foz, onde faleceu aos
11 de Fevereiro de 1911. Das suas obras encontro no Anuário citado,
artigo do Sr. Dr. Maximiano Lemos, a seguinte nota:
Acerca da influência da
imaginação na produção e terapêutica dos incidentes consecutivos às grandes
operações cirúrgicas. Porto,
1818. — Dissertação defendida no final do curso da Escola Médica do Porto. Não
foi impressa, nem o manuscrito está arrumado no respectivo arquivo.
Gangrena. Porto,
1858.— Também o manuscrito não foi entregue no arquivo da mesma escola.
Discurso lido em 5 de Outubro de
1862, em sessão solene da abertura do
curso médico-cirúrgico de 1862-1863, na Escola Médico-Cirúrgica do Porto, pelo
substituto da secção cirúrgica da mesma escola, etc. Porto. Tip. de António José
da Silva Teixeira, 1872.
Manual de tocologia.
Compêndio de obstetrícia para tema das lições do curso de parteiras da Escola
Médico-Cirúrgica do Porto, etc. Tip. Elzeviriana, 1882.
Falsificação de géneros
alimentícios. Análise de óleos. — Saiu no periódico Saúde Pública, em vários meses de
1884.
Análise de vinhos.—
No mesmo periódico, 1884.
O caso médico-legal Urbino de
Freitas, já
citado no Dic. Teve colaboração nesta importantíssima obra, mas o
principal trabalho, como já registei, foi do ilustre professore químico, Sr.
Conselheiro António Joaquim Ferreira da Silva.
Exame e refutação dos pareceres
constantes dos suplementos a “Coimbra Médica”, acerca do processo-crime Urbino
de Freitas. Porto,
Imprensa Portuguesa, 1893.
A verdade dos factos
restabelecida na questão do alienado A. Bessa. Porto. Tip. Ocidental, 1883,
8.º. A biografia do Dr. Agostinho António do Souto, pelo Sr Dr. Maximiano de
Lemos, é acompanhada de bom retrato no Anuário da Faculdade de Medicina do
Porto, supracitado.
Dicionário Bibliográfico
Português, de Inocêncio Francisco da Silva, continuado e ampliado por Pedro V.
de Brito Aranha, Tomo XXII (15.º suplemento), Imprensa Nacional, Lisboa, 1922,
pp. 24-25
-----------------------------------------
Comentário a este verbete deixado no Facebook, pelo meu amigo Rui Faria:
Este desafiava a ordem prescrita pela Muito Santa e Madre
Igreja Católica, para escândalo público! São Paio, Paroquial 429, fl. 86 v.,
n.º 1
Manuel José do Souto Coelho de Oliveira formado em Medicina
filho de José António do Souto e de Rosa Maria de Oliveira e Dona Ana Rita de
Fonseca Osório filha legítima de Luís Manuel da Fonseca Osório e de Maria
Joaquina do Carmo ambos naturais da freguesia de São Gonçalo de Amarante
moradores e residentes na Rua de São Domingos desta freguesia para cessar o
público escândalo e legitimarem a prole que já têm de dois filhos Agostinho de
idade de oito anos batizado na Igreja de Santo Estêvão de Urgeses e Manuel de
idade de cinco anos batizado na Igreja de Nossa Senhora da Oliveira desta vila
estando ele enfermo em articulo mortis e não tendo impedimento derivante
receberam o sacramento do matrimónio um com o outro por palavras de presente,
na forma do direito eclesiástico, canónico e Constituição deste arcebispado in
domo simlecto na presença de mim o próprio pároco Manuel Lopes Martins de
Macedo aos dezoito dias do mês de Outubro de mil oitocentos e trinta e dois
estando a tudo presentes os mencionados filhos, e por testemunha António José
Pereira cutileiro da Rua Travessa e José Joaquim Antunes da Cunha negociante da
dita Rua de São Domingos, e mais pessoas que se acharam na mesma casa. Em fé de
verdade fiz este assento era ut supra
O Pároco Manuel Lopes Martins de Macedo
Manuel José Gomes possui inscrição em Braga, de 30-Nov-1805,
Pasta 503, Processo 11045
0 Comentários