Ana Plácido editada pelo conde de Margaride


Ana Plácido

Em 1871, o Conde de Margaride editou em Guimarães, na Tipografia do Vimaranense, o livro de poesia Herança de lágrimas, de Ana Plácido (1831-1895), companheira de vida e de infortúnio de Camilo Castelo Branca. Trata-se de uma obra hoje raríssima, de que se fez uma edição fac-similada em 1995, no centenário da morte da escritora. Alberto Pimentel, explica porque é que este livro se transformou numa raridade:

Averiguei que em Guimarães houvera duas gazetas com aquele título, uma de 1856 a 1860, outra de 1862 a 1863, mas que, em 1871, o único jornal ali em publicação tinha diferente título, era o que se denominava Religião e Pátria e viveu desde 1862 a 1889.

Como explicar então que fosse editora do romance a redacção de um periódico extinto oito anos antes ?

Pedi ao meu bom amigo Sr. António de Carvalho Cirne o favor de me ajudar a esclarecer este facto estranho e tanto ou quanto misterioso. S. Exª, estando na Quinta das Lameiras no verão de 1908, respondeu-me dizendo: Que o Sr. Conde de Margaride tinha sido o editor do romance Herança de lágrimas, por contrato que lhe propusera Camilo; que a edição fora enviada para o Porto ao cuidado de certo vimaranense na mesma cidade residente, o qual, tendo outros negócios a tratar, se esquecera dos livros a ponto de ficarem ainda encaixotados em algum sótão de uma casa onde tinha habitado. E comentava o Sr. António de Carvalho com a sua costumada graça, quase sempre apropriada a um duplo fundo de lógica e verdade: — “Entretanto no prédio que ele abandonou, foram-se sucedendo os inquilinos e é de crer que algum merceeiro tivesse encontrado dentro dos caixões uma mina de cartuchos para açúcar e café”. Assim deve ter acontecido.

O próprio Sr. Conde de Margaride não possui nenhum exemplar. No mercado do Porto raros aparecem à venda: apenas tenho notícia de dois, anunciados em catálogos do alfarrabista da Rua Chã, Lopes da Silva.

Até nisto se revela mais uma vez a má sina de D. Ana Plácido.

Alberto Pimentel, citado no Dicionário Bibliográfico Português, de Inocêncio Francisco da Silva, continuado e ampliado por Pedro V. de Brito Aranha, Tomo XXII (15.º suplemento), Imprensa Nacional, Lisboa, 1922, pp. 90-91

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