Da linguagem popular (1)


O etnógrafo vimaranense Alberto Vieira Braga (1892-1965) recolheu um largo conjunto de vocábulos e expressões populares que publicou com o título Escassa Respiga Lexicológica (Provincianismos Minhotos). Aqui ficam alguns:

AbadeIr guardar os pitos ao abade — morrer.

É muito conhecida no Minho esta locução, mas pouco usada. Não resisto ao desejo de transcrever a curiosa e verdadeira definição que lhe dá o sr. A. de Pinho, na "Águia" de Julho e Agosto de 1917.

Falando-se dum indivíduo com ar de pouca saúde, que ande, como vulgarmente se diz, a morrer de pé: — Home, aquêl' parece que quer ir guardar os pitos ò abade.

"Na grande maioria das freguesias rurais da região os cemitérios datam de há poucos anos, e algumas delas, não raras, os não têm. Os enterramentos, em consequência, passaram a fazer-se nos adros, depois que foi proibido inumar dentro dos templos. Junto destes, e, portanto, perto dos seus adros, ficavam as casas da residência dos párocos, cujas ninhadas de pintainhos iriam, como é natural, fazer a sua digressão insecticida até aos adros. Desta forma, os defuntos ali enterrados estariam olhando pelos pitos (pintos) do pároco, guardando-os, pois ninguém ousaria roubá-los em tal lugar, com o terror supersticioso da presença dos mortos.”

Abaixar-calçasIr abaixar-calças — defecar. Fazer a sua vida. Dar-de-corpo. O N. D. C. Figueiredo regista neste sentido e como prov. — abaixar.

Abaixo-de-Braga — Mandar alguém abaixo-de-Braga é o mesmo que o mandar àquela parte, à fava, à trampa, à tábua.

Abatóco-te! — (interj.) Estrenóco-te! Abrenúncio!

Abombar — Acto de agitar, de sacudir (o bombo — baloiço). (Inf. de Salvador Dantas).

Abrocheados — Diz-se dos socos que são “enfeitados”' com tachinhas brancas ou amarelas nos bordos da madeira.

Açurriar — Açular, incitar (os cães).

Adei — E então, e daí.

Adunar — Dormir em pé; marrucar. O N. D. C. F.(*) regista adumar.

Agasalho — "Além da Redonda (ver este termo) comida facultativa, havia, e ainda hoje existe, uma refeição que se considera obrigatória e que tem o nome de Agasalho. Sob este nome compreende-se a refeição que é dada aos confrades das irmandades que acodem ao saimento, pão e vinho como aquela outra, acrescentada com uma posta de bacalhau frito, etc." — Oliveira Guimarães, na Portugália, artigo "Usos e Costumes", II vol.

Agrilar — Diz-se dos cereais quando principiam a despontar na terra.

Água-às-mãos — (pop.) Toalha de água-às-mâos — toalha de rosto. Vulgar.

Água-da-Oliveira — Dar água da Oliveira a alguém. É frequente esta locução.

Bastas vezes ouvimos dizer, quando algum novo e desconhecido funcionário vem para Guimarães com fama de mau: A Fulano é preciso dar-lhe água da Oliveira; Beltrano já bebeu água da Oliveira, etc.

Virtude naturalmente atribuída à água do antigo tanque da Oliveira, que tinha o grande poder e subido valor de amansar como um cordeiro quem fosse bravo e mau como um toiro.

Aininas! — (interj. Calão) Designativo de afirmação e satisfação — Olarila! Olaré ! (Inf. de S. D.).

Alabradorado — De modos labregos; grosseiro, estúpido.

Albardeiro — Mentiroso. O N. D. C. Figueiredo regista o t. como prov. trasm.

Albório — Coberto, telheiro, etc. No N. D. C. F. vem o termo alboio como prov. minh. e com a seguinte designação: — "Alboio — O mesmo que alpendre. Casa grande, mas desprezada e abandonada." — Um e outro serão a mesma coisa? É natural. Todavia é mais conhecida e vulgar a forma albório e talvez pela razão simples de este termo ser mais fácil de pronunciar.

(*) N. C. D. F. - Novo Dicionário de Cândido de Figueiredo.

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