Fazer as danças nas festas da Câmara era obrigação dos diferentes
ofícios, pelo que não se deve estranhar que também as houvesse de estudantes.
Como vimos, foi com danças que os estudantes financiaram a construção da Capela
de S. Nicolau. Esta será, aliás, a forma mais usual do financiamento da
Irmandade de S. Nicolau, de acordo com o Cap. XV do respectivo Estatuto, de
1691, que estabelece que o “aumento desta Santa Irmandade consiste nas
esmolas que se dão pelas Comédias e Danças”. As danças e folias eram,
assim, um serviço que a Irmandade prestava a troco de pagamento, como aconteceu
em 1730, quando a Colegiada despendeu
cinquenta mil réis com uma “folia preta dos estudantes e dança preta”.
No século XIX, voltamos a ter notícia de danças organizadas pelos
estudantes de Guimarães (aqui já sem referência à Irmandade). Temos notícias de
duas no ano de de 1823. Nos dias 12 e 13 de Janeiro, os estudantes saíram
mascarados, acompanhando um carro onde figurava o retrato de D. João VI,
cantaram o hino e fazendo “uma brilhante dança”. No dia 31 de Agosto, no último
de três dias de corridas de touros em honra do Conde de Azenha, as ruas de
Guimarães foram percorridas por uma “vistosa dança”, feita pelos estudantes.
Na década de 1820, em plenas lutas liberais, os estudantes de
Guimarães foram, várias vezes, proibidos de se mascararem no dia de S. Nicolau,
conforme era seu uso. A tais interditos de referia, indirectamente, o pregão de
1828:
Festivas
danças, lícitos folgares,
Não mancham o sagrado dos altares.
E no Pregão do ano seguinte, lia-se:Não mancham o sagrado dos altares.
Máscara, exibição, festiva dança,
Que ao coração das Ninfas prisões lança,
É cacho que ninguém mais depenica.
A Revista Universal
Lisbonense, periódico de António Feliciano de Castilho, descreveu, em 1843,
as festas de S. Nicolau de Guimarães:
Máscara Histórica – A festa de S. Nicolau em Guimarães é popular e antiga na terra.
Este ano foi ainda mais luzida do que nos precedentes. A dança dos mascarados
principalmente, esteve muito para ver: entre outras figuras apareceu nela uma
representando um egresso a pedir esmola aos ricaços, que herdaram todos os seus
bens, estando ele ainda vivo! O pensamento foi aplaudido geralmente.
Em 1845, depois dos estudantes terem dirigido a sua ironia para os
“engenheiros” que estavam a construir a estrada para o Porto, voltou as
proibição, que, a instâncias dos estudantes, seria levantada pelo administrador
do Concelho. Mas, se não foi a autoridade política, foi a chuva a prejudicar os
festejos, impedindo a saída de uma “dança chinesa” no dia de S. Nicolau. Sairia
à rua no dia 9 de Dezembro, juntamente com uma “dança dos pescadores”.
O
pregão de 1852 refere-se às danças:Nem só quem traz judia, e traz bigode,
As danças, as facécias gozar pode;
Verá qualquer lapónio as farsas belas,
Té de riso estalar pelas costelas.
[continua]
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