O Toural, nos dias que correm (clicar para ampliar) |
1. Pasmatório é, segundo os dicionários, a praça ou o lugar onde se juntam as pessoas para conversarem sobre o que vai acontecendo e sobre o que se vai dizendo.
2.
Eis um tema de conversa no nosso pasmatório: não falta por aí quem, porventura
investido de uma superioridade moral que se não sabe de onde lhe chega, reclame
esclarecimentos e critique o “silêncio” de membros do Conselho Geral da FCG,
entre os quais me incluo, relativamente aos termos do acordo que conduziu ao
afastamento da anterior presidente da Fundação Cidade de Guimarães.
Esclareça-se, portanto.
Esclareça-se,
em primeiro lugar, que se trata de um entendimento entre a FCG e a sua anterior
presidente, assinado à margem de uma reunião do Conselho Geral e que contou com
a concordância da Câmara. Apesar do voto de silêncio a que se obrigaram os
subscritores, a substância do acordo não é secreta, sendo públicos os seus
termos: as partes entenderam que estava na hora de mudar de ciclo na FCG,
introduzindo novos protagonistas, a presidente resignou ao cargo e a FCG
comprometeu-se a compensá-la por eventuais perdas salariais, em relação à
remuneração que auferia antes de assumir funções na FCG, no posto de trabalho
que viesse a ocupar. Os termos do acordo foram divulgados, com clareza, em conferência
de imprensa e em reunião da vereação municipal, através do jurista que
representou a Câmara nas negociações, pelo que não se entende a insistência em
pedidos de esclarecimento por parte de quem tem a obrigação de estar bem
informado.
Tal
como não se compreende a notícia da última edição do Expresso em que se afirma
que a diferença a pagar pela Fundação seria a que resultava dos vencimentos que
Cristina Azevedo auferia na Euronext (empresa a cujos quadros pertencia) e na
FCG. Tal não corresponde à verdade. A diferença em questão é a que resultar da
situação que a ex-presidente da FCG auferia imediatamente antes de vir para
Guimarães (é público que estava destacada na CCDRN) e a que lhe caberá na sua
nova situação profissional, depois de sair de Guimarães (eventualmente,
regressando à Euronext). A distância que vai da informação que lemos no
Expresso e a verdade pode parecer uma minudência, mas é uma “minudência” que
vai entre meia dúzia e centenas de milhares de euros. Os pergaminhos de um
jornal de referência nacional deveriam recomendar mais rigor nas informações
que publica.
3.
De todas as intervenções que, ao longo das últimas décadas, aconteceram em
Guimarães, a de maior risco será a que envolve o Toural, já que esta praça
carrega em si uma fortíssima carga afectiva e simbólica, que explica as
resistências e as polémicas que se levantaram sempre que houve intenção de lhe
mexer. Trata-se de uma cirurgia de alto risco, por ter como objecto o coração
da cidade. Desta vez, não faltou a discussão, nem faltaram as resistências,
umas mais viscerais do que outras. Mas a obra fez-se e o novo Toural vai
ganhando forma.
Acabo
de subir à basílica de S. Pedro para olhar a praça. O que vi confirmou o que ia
percebendo a partir do chão: o redesenho do Toural incorpora uma notável marca
de contemporaneidade, acrescenta dimensão e amplitude e devolve a praça à sua
grandiosidade original. Guimarães está em vias de recuperar a sua principal
centralidade e o seu pasmatório natural.
[Texto
publicado em O Povo de Guimarães de 4
de Novembro de 2011]
8 Comentários
E quando os popós galgarem o novo piso?
O desenho no piso, ninguém consegue ver, ninguém mesmo, a menos que tenha a sorte de um dia o teleférico passar por estas bandas...
Nota negativa: acho que a iluminação não é adequada. Aqueles candeeiros não são de lá...a quem de direito..
Alberto Oliveira
Alto... há um oásis. Ainda bem. Pena ser pequeno para tanto reformado e desempregado.
"Estas pedrinhas" são as mesmas que estiveram no Toural desde 1928. Não consta que se costumassem soltar.
Quanto a ver o desenho, ao nível do solo, consegue-se ver este tanto quanto se via o anterior ou qualquer outro. Estando em cima dele só se consegue ver uma parte, e nunca abarcar o todo. E isto vale para qualquer desenho.
Caro Alberto Oliveira,
Quanto aos candeeiros de iluminação, ainda não percebi bem se os que estão no meio da praça (os antigos) são para ficar ou para sair (uns já saíram, outros ainda lá estão). Já em relação aos que colocaram no passeio do lado de S. Pedro, parecem-me pouco intrusivos.
Caro anónimo das 08:46,
O que a si se afigura como um deserto, a mim surge-me como um ganho na percepção da praça, que ganha grandiosidade, muito se ganhando com a perspectiva desimpedida da frente voltada a nascente.
Quanto aos simpáticos utentes do nosso pasmatório, caso não sejam suficientes as árvores do Toural, elas não lhes faltarão um pouco mais adiante, no topo sul da praça e em toda a Alameda.
Os velhos são mesmo para sair.
Quanto ao desenho propriamente dito, é verdade que não está lá todo o Centro Histórico. Mas também é verdade que está lá mais do que o Centro Histórico. Acredito que a escolha do que está representado no chão deve estar relacionado com o formato da placa central do Toural, que é muito diferente do desenho do espaço intramuros a que chamamos de Centro Histórico