O Passo do Carmo. (clicar para ampliar) |
Nas
primeiras décadas do século XVIII, os cerimoniais da Via-sacra em Guimarães,
por altura da Quaresma, já eram organizados pela Irmandade da Consolação e
Santos Passos. Para o efeito, distribuíam-se cruzes por diversos pontos da vila
e a representação dos diferentes passos da Paixão de Cristo era feita por
figurado vindo de Braga, em regime de aluguer. Em 1726, a Irmandade lançou mãos
à obra de erigir, em diferentes locais da vila, uma Via-sacra em granito,
composta por sete capelas de pequenas dimensões, preenchidas por figurado
esculpido em madeira pintada, em tamanho natural. O primeiro Passo a ser
instalado foi o da Senhora da Guia. No ano seguinte, com autorização do Cabido,
instalava-se um outro, encostado à Colegiada, junto à Capela de S. Brás. Pela mesma
altura, andavam em obras os Passos do Campo da Feira, de Santo António, do
Toural e de S. Tiago. Ao todo, terão sido sete, mas temos alguma dificuldade em
identificá-los a todos. Não há dúvidas quanto à localização de seis.
Para o que
falta, sobram incertezas. Encontro referências aos passos de Santo António e de S. Tiago, mas devem nomear os santos neles representados, e não a rua ou a praça onde se ergueriam (aliás, a rua Nova
de Santo António apenas ganhou esse nome em 1873, sendo muito anteriores as
referências a este passo). O passo do Largo de S. Bento (ou de D. Luís I),
posteriormente mudado para o terreiro da Misericórdia, referido pelo padre
António Caldas e, a partir dele, replicado por outros autores, está por explicar. A existir, a
dado momento teriam existido dois passos nos Laranjais (ou de D. Luís I), o que é
pouco plausível. Aparentemente, o suposto passo do largo de S. Bento
será o mesmo que estava junto à torre de S. Bento, nos Laranjais.
Nas contas da Irmandade da Consolação e Santos Passos consta, em 1765, um pagamento ao carpinteiro João Baptista, referente a trabalhos executados num passo localizado na rua de Valdonas. Provavelmente, será este o sétimo passo.
Nas contas da Irmandade da Consolação e Santos Passos consta, em 1765, um pagamento ao carpinteiro João Baptista, referente a trabalhos executados num passo localizado na rua de Valdonas. Provavelmente, será este o sétimo passo.
Aqui
se transcreve o texto do Padre Caldas em que trata dos Passos da Paixão:
Oratório
dos Santos Passos. São sete pequenas capelas, todas de pedra, compondo a Via-Sacra,
com sete passos da Paixão de Jesus Cristo, com o figurado em madeira do tamanho
natural e de boa escultura. Foram levantados a expensas da irmandade, e são
todos os anos visitados pela procissão de Lázaro, no respectivo domingo, e pela
Via-Sacra, que costuma sair de S. Francisco em todas as domingas de quaresma
depois do sermão, nesta igreja. São igualmente visitados no decurso da quaresma
por muitas Vias-Sacras, particulares, e por grande número de fiéis, que se
entregam a estes exercícios de piedade. O primeiro destes passos, que
representa a primeira queda do Redentor, fica ao lado direito da capela da
Senhora da Guia, encostado à antiga muralha; o segundo encosta-se à capela de
S. Brás, nos claustros da Oliveira; o terceiro em Santa Clara; o quarto no
largo do Carmo, fronteiro à igreja; o quinto na rua de D. Luís I, noutro tempo
chamada, neste ponto, largo dos Laranjais; o sexto na rua Nova de Santo
António, encostado à antiga muralha, para onde veio, do Campo da Misericórdia,
em Março de 1879, tendo estado antes disso no largo de S. Bento, hoje também
rua de D. Luís I; o sétimo finalmente encosta-se à igreja de S. Sebastião,
sobre o adro, a norte.
(António
José Ferreira Caldas, Guimarães – Apontamentos para a sua história, 2.ª ed.,
SMS/CMG, 1996, p.p. 384-385)
O
Padre Caldas inumera os sete Passos da Paixão tal como os conheceu e como
existiam no momento em que escreveu (início da década de 1880). Vários deles já
tinham sido transplantados para lugares diferentes daqueles em que foram
inicialmente erguidos. Da minha leitura dos documentos conhecidos, inclino-me
para que, originalmente, as capelas dos passos estivessem distribuídas pelos seguintes lugares:
(1) Senhora da Guia;
(2) Oliveira (junto à Capela de S. Brás);
(3) Santa Clara (em frente ao Convento);
(4) Terreiro do Carmo (o mesmo que seria
pintado por Roquemont);
(5) Porta da Vila (junto à torre de S.
Domingos, no Toural);
(6) Torre de S. Bento (Laranjais);
(7) Rua de Valdonas.
Numa
próxima nota, tentarei reconstituir a via-sacra das capelas dos passos
de Guimarães, com as suas sucessivas mudanças de lugar.
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http://www.base.gov.pt/_layouts/ccp/AjusteDirecto/Detail.aspx?idAjusteDirecto=251577&lk=srch