Um nome que o Toural podia ter tido

O Toural em meados do séc. XX
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A propósito dos nomes que o Toural tem tido, o meu amigo Francisco Brito deu-me a conhecer uma outra designação que a Praça poderia ter tido, ao menos por alguns dias (final de Julho e início de Agosto de 1826) e para algumas pessoas (os constitucionais de Guimarães). Essa denominação é atribuída à Praça pelo autor de um curioso texto, com o título “Festas em Guimarães pela aclamação da Carta Constitucional” publicado no jornal Borboleta Constitucional, de 16 de Setembro de 1826. Aí se refere aquele espaço da cidade de Guimarães como a “Praça de PEDRO IV (que assim se deve chamar à Praça do Toural por seu Patriotismo)”. Nas três páginas em que se descrevem os festejos, o autor não utiliza o nome Toural, referindo-se-lhe como a Praça e, por duas vezes, Praça de D. Pedro IV (“saiu, na tarde do 1.º de Agosto da Praça de D. Pedro IV um luzido Bando, que anunciava a grande Festividade do dia seguinte”; “o festejo teve lugar na grande Praça de D. Pedro IV”).

O texto da Borboleta Constitucional é uma reportagem circunstanciada das celebrações com que os vimaranenses assinalaram a aclamação da Carta Constitucional. Conhecem-se, pelo menos, duas outras descrições daqueles festejos, uma directa, a que consta no diário do Cónego Pereira Lopes de Lima, na transcrição dele fez o João Lopes de Faria, outra indirecta, a que nos dá o Padre Ferreira Caldas, no seu Guimarães – Apontamentos para a sua história. Os três relatos são coincidentes naquilo que narram, mas apenas o articulista da Borboleta Constitucional designa o Toural por Praça de D. Pedro IV, o que nos leva a supor que tal renomeação seria, provavelmente, a expressão de um desejo que nunca se concretizou.

As diversas referências ao Toural que se encontram em diferentes documentos das décadas de 1820 e 1830, designam-no sempre como Campo do Toural ou Praça do Toural. Aqueles tempos não eram dados a alterações toponímicas, área em que predominava uma constância secular: as ruas mantinham as designações que lhes vinham da tradição, muitas vezes medieval, que se relacionavam com suas características ou com as actividades nelas exercidas, ou então usavam de nomes ligados à religião. Só depois de 1850 é que foi introduzido o costume de mudar os nomes às ruas. Em 1853, as ruas Sapateira e dos Mercadores passaram a homenagear a Rainha D. Maria II; em 1863, a rua de Gatos passou a designar-se rua D. João I. Note-se que, até àquela altura, nenhuma outra rua de Guimarães tinha nome de pessoa. Camões, Paio Galvão ou João Franco só chegariam às placas toponímicas vimaranenses depois de 1880, iniciando a "tradição" de mudar o nome das ruas ao sabor das modas, que ganharia força política com a Primeira República.

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