A implantação República nos jornais de Guimarães (1)



Do Notícias de Guimarães, de 6 de Outubro de 1910:

LISBOA EM REVOLUÇÃO

Pelas parcas informações até nós chegadas pelos jornais do Porto, apenas podemos apresentar, como boato, a nossos prezados leitores, que alguns exércitos de Lisboa, juntamente com grande número de populares tentam impor à Monarquia novas instituições em pró da liberdade; isto é, proclamar a república.

O letíferos passos que imprudentemente el-rei dera, são a causa, talvez irremediável, da queda vergonhosa da secular monarquia que tanto trabalho e sangue custou ao nosso filho e grande rei D. Afonso Henriques.

As notícias, vindas ate nós, são todas desfavoráveis à monarquia, nem uma só a acompanha em favor.

Daí o desânimo quase geral que, com intensidade assombrosa se apodera dos monárquicos, até dos da província.

Conversas a que temos assistido, todas reflectem a indiferença pela mudança de regime, tal desgosto que entre todos, em geral, lavra.

Isto o que podemos assegurar aos nossos leitores, como certo. O que se está, a esta hora, passando em Lisboa, é-nos Inteiramente desconhecido, por o telégrafo estar cortado de Lisboa ao Porto.

Sabe-se, porém, que a bandeira republicana está hasteada em vários pontos de Lisboa e em diversos vapores, tendo a marinha de guerra salvado com 31 tiros o seu içamento — prova eloquente de que está ao lado dos revoltosos.

Também é do domínio dos informadores e dos que leram os jornais de terça-feira da capital, que vários mortos e feridos têm havido de parte a parte, e entre eles grandes individualidades civis e militares.

Aguardemos os acontecimentos que esses fiel e iniludivelmente nos mostrarão debaixo de que regime é regido o nosso desditoso Portugal.

Oxalá a solução destes gravíssimos acontecimentos seja a mais satisfatória e redentora para a nossa querida Pátria desventurado, que sincera e profundamente respeitamos e amamos.

À ÚLTIMA HORA
A REPÚBLICA EM PORTUGAL

Está definitivamente constituída a mudança de regime, no nosso país.

Antes que o passo fosse decisivo, o coração do exército português que era, insofismavelmente, fiel às Instituições, hoje apagadas, bateu-se como um herói, e como um herói sacrificou o último alento.

Foi, porém, em vão, vertida essa caudalosa corrente de sangue em holocausto, em defesa do regime que, pelos monárquicos, tinha sido arremessado ao descrédito e por eles sujo, deixando-o quase exausto, sem forças, tornando-o, portanto, impossível de vida. Eis porque, a república em Portugal hoje é um facto, ficando o ministério provisório assim constituído:

Presidente — Teófilo Braga
Interior — António José Almeida
Justiça — Afonso Costa
Estrangeiros — Bernardino Machado
Guerra Coronel — Xavier Barreto
Marinha—Capitão de mar e guerra Azevedo Gomes
Fazenda — Basílio Teles
Obras públicas — António Luís Gomes.

Com o que, portugueses, que ontem éramos monárquicos, não havemos de ensarilhar armas, mas sim unidos e com denodo e energia, trabalhar e combater pelo bem da pátria e do povo, simbolizado no actual regime.

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