Max Ernst, La ville Entière, óleo sobre tela, 1935/36
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A cidade imaginária é uma cidade de cultura. Onde a cultura não é parente pobre que só se senta à mesa em dias especiais, mas um parceiro leal, credível, de todos os dias. A cultura permite-nos ver para além de nós e da nossa pequenina circunstância. Olhamos de outro ponto, para dentro e para fora. Ganhamos dimensão, desejo, escala, superamo-nos. Pela cultura garantimos generosidade, única arma contra a mesquinhez, falta de visão e de ambição.
A cidade imaginária é a que tira partido das raízes, da memória genética, que a desenvolve, que inova, que refaz os desígnios e alicia os protagonistas para a sua partilha.
A cidade imaginária repudia a indiferença e a resignação, não se importa de correr riscos, de perturbar, de acrescentar, de ousar, de marcar presença.
A cidade imaginária é aquela em que "os vivos pedem para depois de mortos um destino diferente do que lhes calhou" (Italo Calvino, outra vez). Mas para isso têm de reconhecer a cidade em que viveram.
Quando virámos costas à cidade histórica, construímos uma outra cidade, mais individualista, mais hedonista, mais indiferenciada, mais agressiva, menos apropriável.
A cidade imaginária é democrática, é toda a cidade e não a cidade dos poderes, sejam eles técnicos ou políticos. É a cidade onde todos participam no problema e todos participam na solução.
É uma cidade de pessoas, não de objectos."
João B. Serra, Manifesto pela Cidade Imaginária
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