S. Dâmaso, papa de Guimarães?


S. Dâmaso


S. Dâmaso Sumo Pontífice


Foi S. Dâmaso Português, filho de António, nasceu em Entre-Douro-e-Minho, junto a Guimarães, ou no mesmo povo, como claramente o testificam os Breviários Bracarense, e Eborense antigos. E João Vaseu, varão douto, João de Barros, jurisconsulto nas suas Antiguidades de Entre-Douro-e-Minho, c. 13, falando de Guimarães, onde além dos Autores, que por si alega, diz que duas léguas de Guimarães, e uma de Braga estão no Couto de Pedralva umas casas e edifícios, muito antigos e arruinados, os quais têm por tradição antiquíssima os daquele lugar, que morou ali a mãe de um Papa, que foi em Roma Santo, e que dali se foi para lá. O que além de ter autoridade pela tradição, concorda com o que lemos em sua vida, que foi enterrado em Roma com sua mãe e irmã; as quais parece deixaram sua pátria e assento natural, por viverem em companhia deste Servo de Deus. Porém invejosos alguns estrangeiros do lustre e honra, que a esta Província resultava de ser mãe de tão santo filho, no-lo quiseram usurpar, para ilustrar com ele suas Pátrias; como foi o Doutor Pedro Antão Beuter, que sem fundamento, por engrandecer a sua, o faz de Barcelona; e os Castelhanos, que contendem ser nascido em Madrid, e alegam com Marineo Sículo, o qual ainda parece sentir o contrário; pois tratando no seu quinto livro mui particularmente dos Santos dos Reinos de Castela, e Aragão, não põem este, tendo tão notável; e somente falando de Madrid no livro fegundo, acaso diz estas palavras: Est Præterea felicissimum Sancti Damasi Summi Pontificis meritis, qui Maioritanus fuisse perhibetus a multis. E desta sua opinião não dá mais razão alguma, nem mostra outros Autores, em que se funde, senão uma pedra moderna sem autor, nem autoridade. Pelo que se vê claramente, que só tuas paixões particulares os fazem desviar da verdade conhecida. Temos além de tudo por nós Onófrio Panvino, o qual o nomeia sempre Português. E posto que no livro, que compôs de Vitis Pontificum, & Cardinalium, diga que era Egitanense, ultimamente no Chronicon dos Pontífices Romanos diz que é de Guimarães. E o Doutor Gonçalo de Ilhescas em sua vida confessa esta verdade, e diz estar tido universalmente por Português. O que parece é bastante para abonar a parte de nosso, em que tanto interessamos. (...)

(Manuel Severim de Faria, Notícias de Portugal, Lisboa, Oficina de António Gomes, 3.ª edição, 1791, Tomo II, pp. 215-218)

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