O Bloco de Esquerda é um fenómeno sociológico de difícil de compreensão: apesar da sua reduzida penetração, inserção social e visibilidade em largas franjas do território português, obtém, em eleições nacionais, resultados significativos. É o que sucede em Guimarães, como se viu nas últimas eleições legislativas. No próximo domingo veremos se há uma transposição directa do resultado nacional para o resultado em eleições locais.
O programa eleitoral do Bloco de Esquerda para as próximas eleições autárquicas em Guimarães reflecte a reduzida implantação orgânica do partido no nosso concelho, revelando, a muitos níveis, um deficiente conhecimento da realidade local, que resulta em algumas ideias peregrinas, como a de colocar contadores de tempo em todas as passadeiras, sem que se perceba para que sejam, nem como sejam tais contadores (a não ser que a ideia seja colocar semáforos com temporizadores em todas as passadeiras, o que transformaria Guimarães numa cidade sui generis no que respeita a mobilidade, pedonal ou motorizada) ou a que defende que “todos os edifícios públicos devem estar cobertos com painéis solares” (o que contribuiria significativamente para dar um ar pós-moderno ao nosso Centro Histórico, Património Mundial, onde, numa grande parte dos edifícios, a telha tradicional seria inevitavelmente coberta por superfícies espelhadas).
Sendo um documento cuja construção não prima pelo rigor, onde saltam aos olhos erros de palmatória (como a expressão “em cede de discussão pública”), o programa do Bloco de Esquerda revela preocupações com a dimensão cultural da governação autárquica, que outras forças partidárias não valorizam. Apresenta um conjunto de propostas interessantes, mas porventura dificilmente exequíveis - como o cartão social para a cultura, que isentaria de pagamentos “desempregados, pensionistas, estudantes, pessoas com rendimentos abaixo dos 600 euros” ou a abertura da biblioteca (supõe-se que seja a Biblioteca Municipal Raul Brandão) 24 horas por dia, todos os dias da semana. Propostas há que revelam um manifesto desconhecimento da realidade, como aquela que prevê a gratuitidade na entrada “em todos os museus e locais de interesse público”, o que apenas seria viável com a municipalização dos nossos museus, uma vez que a CMG não possui, nos tempos que correm, qualquer equipamento dessa natureza e não se vê como possa obrigar as entidades que possuem museus em Guimarães a prescindirem de receitas vitais para a sua sobrevivência. Uma outra proposta que revela desconhecimento daquilo que já existe é a que defende a criação de um “espaço internet gratuita para os detentores do cartão social”. A aplicar-se, seria um claro retrocesso em relação ao que já temos há muito, uma vez que Guimarães dispõe de espaços de internet gratuitos (com e sem fios) para todos os utilizadores que os procurem.
O Bloco de Esquerda advoga, entre outras medidas, a instituição de um “Concelho (sic) Local para a Cultura”, o apoio da Câmara à actividade das associações culturais, a disponibilização de espaços públicos para trabalho associativo e cultural, a descentralização e a criação de espaços culturais alternativos no concelho, a promoção de uma rede intermunicipal de criação e divulgação cultural, a criação de um Observatório da Cultura Tradicional da Antiga Galécia, a disponibilização de ateliês gratuitos de formação em diferentes áreas da cultura e das artes. Estas propostas podem assumir-se como contributos a ter em conta na definição de uma política cultural concelhia.
Por último, fica a nota de que o Bloco de Esquerda é o único dos partidos candidatos aos órgãos municipais vimaranenses em cujo programa não se faz qualquer referência ao maior empreendimento cultural da história de Guimarães, que terá lugar no decurso do próximo mandato autárquico, a Capital Europeia da Cultura de 2012.
Eleições autárquicas 2009 | Programa eleitoral do Bloco de Esquerda
Extensão: 6321 palavras
Menções à cultura: 34
Menções à Capital Europeia da Cultura: 0
Espaço dedicado à Capital Europeia da Cultura: 0 palavras
Espaço dedicado ao capítulo sobre a cultura: 546 palavras
O programa eleitoral do Bloco de Esquerda para as próximas eleições autárquicas em Guimarães reflecte a reduzida implantação orgânica do partido no nosso concelho, revelando, a muitos níveis, um deficiente conhecimento da realidade local, que resulta em algumas ideias peregrinas, como a de colocar contadores de tempo em todas as passadeiras, sem que se perceba para que sejam, nem como sejam tais contadores (a não ser que a ideia seja colocar semáforos com temporizadores em todas as passadeiras, o que transformaria Guimarães numa cidade sui generis no que respeita a mobilidade, pedonal ou motorizada) ou a que defende que “todos os edifícios públicos devem estar cobertos com painéis solares” (o que contribuiria significativamente para dar um ar pós-moderno ao nosso Centro Histórico, Património Mundial, onde, numa grande parte dos edifícios, a telha tradicional seria inevitavelmente coberta por superfícies espelhadas).
Sendo um documento cuja construção não prima pelo rigor, onde saltam aos olhos erros de palmatória (como a expressão “em cede de discussão pública”), o programa do Bloco de Esquerda revela preocupações com a dimensão cultural da governação autárquica, que outras forças partidárias não valorizam. Apresenta um conjunto de propostas interessantes, mas porventura dificilmente exequíveis - como o cartão social para a cultura, que isentaria de pagamentos “desempregados, pensionistas, estudantes, pessoas com rendimentos abaixo dos 600 euros” ou a abertura da biblioteca (supõe-se que seja a Biblioteca Municipal Raul Brandão) 24 horas por dia, todos os dias da semana. Propostas há que revelam um manifesto desconhecimento da realidade, como aquela que prevê a gratuitidade na entrada “em todos os museus e locais de interesse público”, o que apenas seria viável com a municipalização dos nossos museus, uma vez que a CMG não possui, nos tempos que correm, qualquer equipamento dessa natureza e não se vê como possa obrigar as entidades que possuem museus em Guimarães a prescindirem de receitas vitais para a sua sobrevivência. Uma outra proposta que revela desconhecimento daquilo que já existe é a que defende a criação de um “espaço internet gratuita para os detentores do cartão social”. A aplicar-se, seria um claro retrocesso em relação ao que já temos há muito, uma vez que Guimarães dispõe de espaços de internet gratuitos (com e sem fios) para todos os utilizadores que os procurem.
O Bloco de Esquerda advoga, entre outras medidas, a instituição de um “Concelho (sic) Local para a Cultura”, o apoio da Câmara à actividade das associações culturais, a disponibilização de espaços públicos para trabalho associativo e cultural, a descentralização e a criação de espaços culturais alternativos no concelho, a promoção de uma rede intermunicipal de criação e divulgação cultural, a criação de um Observatório da Cultura Tradicional da Antiga Galécia, a disponibilização de ateliês gratuitos de formação em diferentes áreas da cultura e das artes. Estas propostas podem assumir-se como contributos a ter em conta na definição de uma política cultural concelhia.
Por último, fica a nota de que o Bloco de Esquerda é o único dos partidos candidatos aos órgãos municipais vimaranenses em cujo programa não se faz qualquer referência ao maior empreendimento cultural da história de Guimarães, que terá lugar no decurso do próximo mandato autárquico, a Capital Europeia da Cultura de 2012.
Eleições autárquicas 2009 | Programa eleitoral do Bloco de Esquerda
Extensão: 6321 palavras
Menções à cultura: 34
Menções à Capital Europeia da Cultura: 0
Espaço dedicado à Capital Europeia da Cultura: 0 palavras
Espaço dedicado ao capítulo sobre a cultura: 546 palavras
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