Essa parte alta murada tinha então a denominação de Castellum de vimaranis, talvez porque com o castelo propriamente dito formava um todo continuo, uma fortaleza única.
Enquanto assim foi, os moradores da parte baixa aceitaram sem relutância os privilégios dos seus vizinhos, mas depois que, no tempo de D. Dinis, todo o burgo se viu rodeado de muros e portanto uns e outros obrigados à sua defesa, sobretudo depois que no ataque que à vila fez Henrique II de Castela, tiveram os habitantes de baixo de socorrer e defender a parte alta, começaram estes protestando e reclamando contra as regalias dos moradores intus castelli que tenazmente procuravam sustentá-las.
Esta luta prolongou-se até ao tempo de D. João I que a terminou de vez com a completa extinção dos privilégios dos moradores do Castelo.
Supõe o snr. Alberto Sampaio que a denominação de vila a recebera a parte alta da cidade em razão de aí se achar, fora do castelo propriamente dito, o palácio real onde fixaram residência D. Henrique e D. Teresa. Mas esta designação de vila só tardiamente aparece em documentos do tempo de D. Fernando; antes desse rei é a denominação de Castellum vimaranes (abrangendo a freguesia de S. Miguel do Castelo) que nas Inquirições de D. Afonso III se opõe à vila vimaranes (abrangendo as freguesias da Oliveira, S. Tiago e S. Paio), e de resto os privilégios que permitiam aos moradores do Castelo “averem juizes e officiaes antrassy”, de sobra lhe justificavam o título que lhe veio a ser dado.
Depois de D. João I passou a chamar-se vila velha do Castelo de Guimarães.
Velha porque? Decerto porque foi murada muito antes que o resto do burgo.
Resumindo:
A latitude e longitude que Ptolomeu assinala à Araduca não é a que tem Guimarães.
Não há documentos antigos que façam menção de tal cidade.
Os documentos trazidos à luz pelo snr. abade de Tagilde, e talvez a costumeira a que alude o padre Torcato, provam que entre a parte alta e a parte baixa da cidade houve desde D. Afonso Henriques, até ao tempo de D. João I, uma distinção proveniente de privilégios concedidos àquela pelo primeiro destes reis; mas que nada tinham com a suposta Araduca.
João de Meira, O Claustro da Colegiada de Guimarães. Revista de Guimarães n.º 22, 1905, p. 39-56.
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