Sobre a Sociedade Patriótica Vimaranense

No rescaldo da Guerra Civil, surgiu em Guimarães a célebre Sociedade Patriótica Vimaranense, cuja história traça, sumariamente, este texto de 1884 do Abade de Tagilde:

Esta sociedade, que fora fundada pelos esforços do então juiz de direito desta comarca, António Clemente de Sousa Gião, chegou a contar 117 sócios, que se propuseram promover os interesses locais.
Inaugurada com o maior entusiasmo, que pároco prometia salutares resultados para os melhoramentos deste Concelho, não correspondeu à expectativa dos habitantes da Guimarães, que em grande número concorria às sessões, que eram públicas e celebradas no tribunal judicial, então em S. Francisco.
Consumidas bastantes sessões na discussão dos Estatutos, cujo relator foi o falecido deputado José Fortunato Ferreira do Castro, sessões que por vezes correram animadas, misturadas de incidentes curiosos, foram estes confeccionados e depois aprovados por portaria do Ministério do Reino de 1 Março de 1836.
Nomeadas comissões de agricultura, de instrução, etc., não nos consta que resultados dignos de menção se possam apontar.
Entre as sessões mais importantes indicaremos a primeira, 25 de Outubro do 1835, em que entre os maiores aplausos o ao som de inúmeros foguetes se colocou na sala das sessões o retrato da Rainha a Senhora D. Maria II e se nomeou a direcção de que foi presidente o já citado juiz, vice-presidentes José Fortunato Ferreira de Castro e Jerónimo Martins da Custa, secretários José de Sousa Bandeira e José Joaquim Fernandes; a de 31 de Janeiro de 1836, em que um dos sócios propôs a demolição do nosso venerando Castelo, devendo a pedra ser empregada em ladrilhar as ruas, e isto pelo único motivo de ele haver servido de prisão política no tempo de D. Miguel. (Ainda bem que tal proposta não teve seguidores.)
A ultima sessão celebrada na casa das audiências teve lugar no dia 3 de Julho de 1836, passando depois a celebrarem-se em casa do então presidente, o 2.° barão de Vila Pouca.
Na sessão de 20 de Dezembro de 1839 presidida por este ilustre titular e reunida no seu palácio, estando presentes muitos dos sócios, a Sociedade Patriótica Vimaranense, que de facto já estava extinta, foi unanimemente dissolvida, resolvendo-se que o seu capital, 93$290 réis, fosse entregue à Câmara para obras municipais, bem como o livro das actas e outros objectos pertencentes à Sociedade e que estavam confiados ao contínuo.
Esta resolução não foi do agrado de alguns dos sócios, que não estavam presentes, o que sabemos pelos protestos lavrados no livro das respectivas actas, que existe no arquivo municipal.
Assim terminou uma Sociedade, bem digna de que melhores auras a bafejassem.

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