Dos primeiros tempos de Afonso Henriques sabemos muito pouco. Não são seguros nem a data, nem o lugar onde nasceu: as datas que têm sido apontadas (1109 ou 1111), os lugares que vão sendo enunciados (Guimarães, Coimbra ou, mais recentemente, Viseu) são meramente conjecturais, por não haver documentos que os sustentem.
Quanto ao local de nascimento do filho de D. Henrique e D. Teresa há duas evidências incontornáveis:
a) Do ponto de vista da História, não é possível dizer onde terá sido. A tese que anda na moda, não tanto depois de ter sido enunciada por Almeida Fernandes, há duas décadas, mas depois de ter sido admitida por José Mattoso, há dois anos, não tem nenhuma prova documental que a sustente. O próprio Mattoso afirma-a como verosímil, possível, provável, admissível, mas não a dá, nem a poderia dar, como provada. A conjectura viseense é sustentada por um único argumento: que D. Teresa teria passado parte do ano de 1109 em Viseu. A conjectura de Coimbra, até há pouco tempo mais em moda na nossa historiografia, é suportada exactamente pelo mesmo fundamento. Em ambos os casos, nenhum documento, nenhum testemunho coevo fiável.
b) Do ponto de vista da tradição, Afonso Henriques nasceu em Guimarães. Esta é uma tradição secular, profundamente enraizada no nosso imaginário, que carrega em si uma evidência: até hoje, a investigação histórica, aquela que trabalha com os documentos e que se constrói com metodologias científicas, não encontrou provas credíveis que a desmentissem.
Assim sendo, se a História a não nega, vai valendo a tradição.
Afonso Henriques não figura na nossa História por ter nascido, seja qual for o lugar onde nasceu, mas sim pela sua obra, a fundação de Portugal. Afonso Henriques é um dos símbolos da nossa identidade nacional. No próximo ano devem passar 900 anos sobre a data do seu nascimento. Impõe-se que este centenário seja celebrado com a dignidade e a grandiosidade que merece. Com uma grande celebração nacional (afinal, Afonso Henriques foi o nosso primeiro Chefe de Estado).
O que não podemos é incorrer no erro de transformar as comemorações numa querela paroquial.
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