Descendente de homens ilustres pela ciência, bastava a este benemérito vimaranense o haver sido progenitor de Agostinho Barbosa, e Simão Vaz Barbosa para ter direito a entrar nesta humilde galeria de vimaranenses ilustres. O filho sábio dá honra e alegria a seus pães, como se exprimem os livros santos. Não é porém como pai de sábios que aqui ocupa um lugar distintíssimo o licenciado Manuel Barbosa; outras são as credenciais que apresenta. Vejamo-las:
Filho do licenciado António Tomas e de Catarina Barbosa, neto do dr. Manuel Barbosa, físico do Cardeal-Infante, nasceu Manuel Barbosa a 16 de Agosto de 1510.
Desde muito criança demonstrou o talento formosíssimo de que na sua; longa carreira tantos provas deu. Perito em línguas, matriculou-se na Universidade onde, sendo discípulo, era já respeitado como mestre, sendo a sua opinião tida em máxima conta nos intricados estudos da jurisprudência.
Advogado no Porto e Guimarães, alcançou, durante o longo prazo do 30 anus, tanta importância que era sempre procurado nas mais árduas questões de ambos os Direitos, civil e eclesiástico.
Retirado à sua quinta de Aldãoo aí continuava livre das questões forenses, a sua ininterrompida convivência com os livros, quando a 6 de Junho do 1578 é nomeado por D. Sebastião Procurador da fazenda real, cargo que continuou exercendo no tempo D. Filipe II onde de sobejo patenteou a sua variada erudição e insigne prudência.
Escreveu diversas obras das quais, por diligência de seu filho Agostinho, se imprimiram as seguintes: REMISSIONES DOCTORUM AD CONTRACTUS, etc. – REMISSIONES DOCTORUM DE OFICIIS PUBLICIS, etc.
Ambas estas obras, muito apreciadas na antiga legislação, existem na bibliuteca da Sociedade Martins Sarmento, onde os curiosos podem ver o retrato do autor que se acha gravado na primeira pagina de cada uma delas e não unicamente na primeira, como por equívoco diz a Biblioteca Lusitana.
Deixou manuscritos os seguintes tratados: “Famílias do reino de Portugal e Notícias históricas” 2 vol. — “Notas ao Nobiliário do Conde D. Pedro” – “Livro da Armaria deste Reino”.
Variadíssimos conhecimentos apresenta Manuel Barbosa em todas as suas obras, que faziam 20 volumes como afirma a “História Genealógica”, além das que se imprimiram. Os seus conhecimentos em numismática podem ver-se na sua obra “Remissiones” ou no tomo IV da já citada “História Genealógica”.
Nem só nas letras foi insigne, nas também a sua piedade se tornou notável. Instituiu morgado na sua quinta do Paço de Aldão, hoje pertença do Exm.° José Ribeiro Martins da Costa, com capela na Igreja de S. Domingos desta cidade, sob a i invocação de Santo Tomás para onde trasladou em 1582 os ossos do venerável Fr. Lourenço Mendes. Em 1692 era administrador do morgado seu parente Jerónimo Vieira do Castro e em 1767 D. Ana Josefa Caetana de Figueiredo, viúva de Bartolomeu Vieira de Castro Pinto Barbudo.
O egrégio jurisconsulto, doutíssimo e estudiosíssimo, um dos maiores letrados do seu tempo, honra e glória de Guimarães, como se exprimem diversos escritores faleceu em 1639 na sua casa de Aldão e foi sepultado junto à capela de Santo Tomás, em S. Domingos. E embora hoje não possa reconhecer-se sua sepultura, seu nome e sua memória é sempre perdurável entre patrícios e estranhos.
Nota. Como esclarecimento diremos: a ossada do beato Lourenço Mendes, sepultado na Igrejas de S. Domingos, foi em 1412 colocada num túmulo de mármore, encostado à parede logo abaixo do altar do Rosário; em 1582 foi colocado no altar do Santo Tomás pelo dr. Manuel Barbosa, como dissemos, este altar porem desapareceu e é de crer que isto sucedesse nas restaurações de 1744, sendo então mudadas as ossadas para o altar de S. Pedro Mártir, onde se gravou a inscrição primitiva, que ainda hoje se lê = Hi sita Laurentii Mendes sunt ossa Beati = no mesmo altar, embora este possua outra dominação, o Coração de Jesus.
Quando neste altar fui colocada a imagem do Coração do Jesus em 1880 foi retirado, em virtude das obras a que se procedeu, o cofre forrado exteriormente a damasco encarnado, que encerra os preciosos restos e guardado na Secretaria da Ordem. Até hoje ainda não foi restituída ao seu lugar, sendo de esperar, como nos afirmaram, que isto se fará dentro em breve.
[João Gomes de Oliveira Guimarães, in O Espectador, n.º 41, Guimarães, 14 de Agosto de 1884]
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