Do Toural: 3. Do estacionamento

Já ninguém terá dúvidas de que o aspecto central de todo o debate à volta do Toural se prende, não tanto com o redesenho da praça, com mais árvores, menos árvores ou sem árvores nenhumas, cujas soluções serão reversíveis, mas com a necessidade (ou a falta dela) de criar ali um parque de estacionamento subterrâneo e de enterrar o trânsito que atravessa a praça. No fundo, porventura sem o parecer, é à volta destes aspectos do projecto que se tem andado a discutir.

A minha perspectiva desta matéria é obviamente subjectiva e empírica, resultando da condição de frequentador da praça e de morador nas suas imediações, uma vez que desconheço os estudos sobre a mobilidade na cidade de Guimarães que estarão na base das soluções avançadas. A sua divulgação pública poderia ser um bom elemento para a compreensão do que é proposto e, porventura, para dar resposta a algumas dúvidas e inquietações que se têm levantado.

Isto dito, direi que ainda não me convenceram os argumentos trazidos ao debate em defesa da construção de um parque subterrâneo no Toural. Em primeiro lugar, pela evidência do actual excesso de oferta de lugares de estacionamento nas imediações da área a intervir. Se hoje sobram tantos lugares, e mesmo que se eliminem alguns, por que razão se parte do princípio de que farão falta no futuro, quando me parece vital que o planeamento do trânsito deve manter o programa, há muito assumido, da redução da circulação de automóveis no interior da cidade?

A propósito desta discussão, muito se tem falado na revitalização do comércio tradicional. Que me perdoe quem pensa o contrário, mas não estou seguro de que os problemas do comércio tradicional em Guimarães derivem da falta de estacionamento automóvel. Hoje, como ontem, havendo muito onde estacionar, não faltam queixas dos comerciantes de que a coisa está má. A verdade é que o forte de Guimarães nunca foi o seu comércio.

Por outro lado, o que temos hoje na zona do Toural e do quadrilátero que fecha com as ruas de Santo António, Gil Vicente e Paio Galvão, tem cada vez menos a ver com o comércio tradicional. Boa parte das lojas que ali se encontram têm exactamente as mesmas características das que antes se confinavam aos centros comerciais e que vêm ganhando terreno noutros espaços. Serão comércio tradicional apenas porque têm porta aberta para a rua? Pressinto que, assim que se fechar o trânsito no Toural e na Rua de Santo António, vamos assistir ao desaparecimento progressivo do pouco comércio verdadeiramente tradicional ainda existente na zona, com a sua substituição por lojas de marcas franchisadas.

Depois, não me parece que o tipo de comércio que hoje se faz nesta zona exija estacionamento à porta da loja, por força dos pesos que os clientes têm que carregar. Cada vez mais se reduz a pastelarias e a outros estabelecimentos onde se come e bebe, a lojas de pronto-a-vestir, sapatarias, ourivesarias, ópticas, onde se vendem artigos que facilmente se transportam em sacos de mão de papel, já que aqui nem sequer existem mercearias ou supermercados.

Ou seja: não faltam razões para ponderar bastante antes de se decidir construir um parque de estacionamento subterrâneo no Toural. Até por causa do comércio: atendendo à experiência passada, já adivinho que, depois das obras iniciadas, serão os próprios comerciantes a queixarem-se delas, por lhes prejudicarem os negócios.

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