Ainda o Toural em debate

A propósito do que tenho dito, nomeadamente neste espaço, sobre o Toural e o projecto de intervenção naquela praça emblemática, ainda em discussão pública, vou recebendo algumas reacções curiosas. Num primeiro momento, eu seria algo próximo de um energúmeno que andava a fornecer argumentos aos que pretendiam retirar as árvores do Toural; depois, houve quem me passasse a olhar como um troglodita que, trancafiado em cavernas históricas, resiste à mudança e quer que o Toural fique como está. Não me parece que aquelas duas condições que me têm sido atribuídas sejam compatíveis entre si.

A propósito do debate sobre o Toural que teve lugar Sociedade Martins Sarmento, no dia 12 de Dezembro, encontrei nos nossos jornais dois artigos que me merecem alguma reflexão.

O primeiro saiu no Expresso do Ave (edição de 19 de Dezembro). É um conjunto de três textos não assinado onde se afirma que, no debate, esteve, de um lado, a Câmara e, do outro “a sociedade civil, alegadamente organizada para bater o pé às ideias de mudar o aspecto, tirar as árvores, logo impedir que haja um parque de estacionamento subterrâneo”. Importa esclarecer que à organização do debate presidiu, única e simplesmente, a intenção de responder ao desafio lançado pela Câmara, contribuindo para o debate público de uma das propostas recentemente divulgadas. Quando foram avançados os convites aos técnicos que intervieram no debate, nenhum dos organizadores sabia quais seriam as opiniões da Arq.ª Maria Manuel Oliveira ou do Prof. Miguel Bandeira. Portanto, essa alegada organização contra o projecto fica-se por isso mesmo, por alegada mas não demonstrada. No mesmo jornal, escreve-se que é evidente que há uma maioria de vimaranenses que não enjeitaria ver o automóvel dali [do Toural] para fora. Tal evidência (como a evidência contrária) também está longe de demonstrada, a não ser que tenham sido feitos estudos de opinião que ainda desconhecemos.

O segundo foi publicado no Povo de Guimarães de 28 de Dezembro. É assinado com o nome de Pedro de Vimaranes, pseudónimo utilizado por um dos poucos a quem chamei de Mestre, mas que, infelizmente, já não está entre nós. Acredito que aquele que agora o utiliza terá legitimidade para o fazer. Quem ali escreve, mostra-se decepcionado com as intervenções do público no debate, por se limitarem a defender a manutenção do Toural tal como está, entendendo que o debate será frustrante se se limitar a confrontar a proposta elaborada com o Toural “tal como está”. Ora, a verdade é que no debate não se ergueu uma única voz a defender o Toural tal como está. Foram, simplesmente, levantadas algumas inquietações e perplexidades, umas mais pertinentes do que outras, em relação a diferentes aspectos do projecto em discussão. O autor faz a destrinça, com clareza e argúcia argumentativa, entre o que entende ser acessório, e eventualmente negociável e/ou descartável, e o que será, a seu ver, essencial: o parqueamento subterrâneo, uma componente do projecto fundamental, necessário para o regresso do Toural a centro cívico e comercial da Cidade, à imagem do que terá sucedido em Braga com a Rua do Souto e adjacentes, depois da construção de parques subterrâneos na zona. E que comércio se propõe para o Toural? Adeus, comércio tradicional, que o que aí vem pode ser de capital e marcas exteriores, desde que os actuais comerciantes se associem ou vendam ou aluguem espaços sem pretenderem ganhar no negócio mais do que o que ganharam em décadas de lojas abertas.

Não me parece que o caso de Braga seja grande exemplo, até porque o comércio ali, com ou sem parqueamento subterrâneo, sempre teve uma dimensão bem maior do que o de Guimarães. Por outro lado, tenho dúvidas sobre se fará muito sentido gastar dinheiro público para criar condições para trazer para o Toural as mesmas lojas que agora encontrámos nos centros comerciais. A não ser que se esteja a pensar em aplicar-lhes uma espécie de taxa de condomínio que permita amortizar o investimento que irá sair dos nossos bolsos em favor das grandes, pequenas e médias multinacionais do comércio.

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