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O Terreiro da Misericórdia. Gravura publicada no "Archivo Pittoresco", 6.º ano (1863), pág. 345.
"Está situado este terreiro, presentemente, no coração da cidade, próximo da grande praça do Toural. Outrora era contíguo às muralhas e à porta chamada da Vila, que desapareceu há muito, deixando o nome ao lugar que ocupava, que é a boca de uma das ruas por onde se entra na dita praça do Toural.
Começando-se a edificação da igreja da Misericórdia no ano de 1585, na rua Sapateira, que vai da praça Maior, onde se ergue a antiquíssima igreja da Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira, até à porta da Vila, resolveram os irmãos daquela santa confraria fazer um largo em frente do templo que andavam construindo. Compraram, pois, várias moradas casas com seus quintais, e obtiveram outras, como esmolas, dos seus proprietários, para tão santo e caridoso instituto. Foi no terreno dessas casas e quintais que se fez o terreiro da Misericórdia.
O templo teve por principal fundador a Pedro de Oliveira, natural de Guimarães; porém a confraria já existia muito anteriormente ao começo desta obra, e congregava-se no claustro da Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira, na capela de S. Brás, que ficou com o nome de Misericórdia Velha.
Não é notável a igreja por belezas arquitectónicas ou riquezas de ornatos. Exteriormente é um dos muitos edifícios de pesadas formas e desengraçados ornamentos, que a arquitectura clássica, ou do renascimento, levantou em o nosso país. Interiormente o que tem de melhor, artisticamente falando, é a obra de talha doirada que lhe guarnece as suas capelas. Tem junto a si o hospital dos expostos.
Ao sair da igreja dão os olhos de frente no formoso painel que a nossa gravura representa. E um lindo e pitoresco apinhoado de edificações de diferente género, e de variados tipos de arquitectura, coroadas, ou divididas e orladas de arvoredo.
No pavimento do terreiro vê-se, do lado direito, uma fonte e uma capela, ou paço do Senhor Jesus; e no fundo um palácio de bom prospecto, propriedade e morada do sr. Manuel Coelho da Mota Prego. Esta casa, edificada ou reconstruída no século passado, não chegou a concluir-se. Devia crescer sobre o pátio onde tem o portão de entrada, e rematar em uma torre igual à que lhe forma o ângulo oposto.
Na parte mais alta da gravura avultam dois grandes monumentos da antiguidade: o castelo da condessa D. Mumadona, onde tiveram a sua corte o conde D. Henrique de Borgonha, e sua mulher a rainha D. Teresa, e onde nasceu o nosso primeiro rei; e o palácio dos duques de Bragança. Já tratámos destes monumentos em outro lugar. A fachada do palácio, que a estampa representa, é a única das suas quatro frontarias que se conserva toda de pé com telhado. Esta parte do edifício serve de quartel ao Batalhão ou destacamento que costuma estacionar em Guimarães. Para este fim tem tido diversas reparações e reconstruções parciais, em que lhe alteraram alguma coisa as suas feições primitivas."
[I. de Vilhena Barbosa, in Archivo Pittoresco, 6.º ano (1863), págs. 345-346]
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