O Túmulo dos Pinheiros

A actual torre sineira da Igreja da Colegiada da Oliveira data dos primeiros anos do século XVI. Foi mandada construir pelo Dr. Pedro Esteves Cogominho, ouvidor do Duque de Bragança, em substituição da que tinha sido erigida a mando de D. João I. Mas não completou a obra. Quando a morte o levou, só um terço da torre estava levantado, pelo que foi o seu filho D. Diogo Pinheiro, Prior de Guimarães, comendatário de diversos mosteiros e futuro Bispo do Funchal, que se encarregou de a concluir. É dele o brasão de armas que encima a magnífica janela manuelina que foi rasgada na torre, representando um pinheiro e um leão associados ao chapéu e aos cordões característicos das insígnias eclesiásticas.

A torre reparte-se por três andares, cuja separação é marcada por frisos lavrados na fachada exterior, onde se destacam duas gárgulas zoomórficas, uma delas particularmente célebre em razão da sua disposição obscena.

É no piso inferior da torre que se abriga a capela dos Pinheiros onde, sob uma abóbada de nervuras, se encontram as sepulturas dos instituidores. São dois túmulos gémeos, talhados em pedra de Ançã e resguardados por grades, que suportam as estátuas jacentes de Pedro Esteves e da sua mulher Isabel Pinheiro. À cabeceira, foi posta uma representação da Senhora da Piedade. No interior da capela, sobressai também uma moldura de janela de excelente labor. Por ali terão andado, certamente, mãos de mestres franceses e ingleses.

Numa das paredes da capela, abrigados no interior de arcos góticos, estão depositados mais dois pequenos sarcófagos, provavelmente dos pais de Isabel Pinheiro. No chão, é também visível uma campa rasa. Todas as sepulturas da capela ostentam as insígnias dos Pinheiros que, segundo o Padre Carvalho da Costa, foram tronco ilustre das melhores casas deste reino.

Os túmulos dos pais de D. Diogo Pinheiro, notáveis a vários títulos, assumem particular relevância para o estudo da indumentária da época de transição do século XV para o XVI. As estátuas das sepulturas dos Pinheiros, em tamanho natural, estão revestidas com os trajos de gala que então se usavam. É este pormenor que as torna extraordinárias, já que, em Portugal, as estátuas tumulares, mesmo as de pessoas que não pertenciam ao clero, eram, por regra, representadas envergando hábitos eclesiásticos, que nada dizem sobre a moda do tempo.

Há muito que este monumento se encontra em estado de decomposição, num processo que resulta da natureza frágil da pedra calcária de que é feito conjugada com a exposição a condições de humidade nefastas. Recorde-se que, durante séculos, a torre da Colegiada serviu de encosto a um tanque fontanário de três bicas que oferecia água da Penha às gentes de Guimarães.

A preocupação com a sua conservação é antiga. No início de 1881, Francisco Martins Sarmento trouxe a Guimarães, a pedido de Cabido, três delegados do Centro Artístico Portuense (Tomás Soller, Soares dos Reis e Marques de Oliveira) para observarem a capela e o túmulos dos Pinheiros e para se pronunciarem acerca dos procedimentos mais adequados para estancar o processo de deterioração. Na altura, o grupo de especialistas também observou e deu opinião sobre a antiga imagem de Nossa Senhora da Oliveira (que tinha sido salva de destruição por João Lopes de Faria), os arcos do claustro de S. Domingos, a imagem de Santa Margarida encontrada numa parede da capela de S. Miguel do Castelo durante as operações de restauro que foram orientadas por Martins Sarmento e uma outra figura cravada na parede do adro da capela de S. Tiago.

Tanto quanto se sabe, as opiniões e conselhos dos homens do Centro Artístico do Porto não produziram qualquer resultado. Até hoje, não foi aplicada qualquer solução capaz de reverter o processo que está a consumir e a transformar em pó uma das memórias mais notáveis de Guimarães.

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