Nos 140 anos da Sociedade Martins Sarmento, 125 anos do Liceu e 120 anos da morte de Avelino da Silva Guimarães

Avelino da Silva Guimarães (1841-1901)


A Sociedade Martins Sarmento, que nasceu como promotora da instrução popular no concelho de Guimarães e se transformou numa das instituições culturais mais prestigiadas do país, acaba de completar 140 anos. Um dos seus iniciadores e o mais destacado agitador da causa da promoção da educação vimaranense, o advogado Avelino da Silva Guimarães, faleceu há 120 anos. O Liceu Martins Sarmento, uma das causas da acção da Sociedade Martins Sarmento e da persistência de Avelino da Silva Guimarães, foi criado há 125 anos. Nos próximos tempos, iremos evocar a história da fundação da Sociedade Martins Sarmento e o seu papel no progresso do ensino em Guimarães, de que são hoje obra viva as duas maiores escolas da cidade, a Francisco de Holanda, instituída a 3 de Dezembro de 1884, e a Martins Sarmento, criada por decreto de 16 de Setembro de 1896.

Para começar pela fundação da Sociedade Martins Sarmento, recuperámos a intervenção de Eduardo de Almeida, na reunião extraordinária da sua direcção, a que presidia, realizada no 20 de Novembro de 1931, para evocar o cinquentenário da assembleia instaladora da promotora da instrução popular vimaranense.

 

...aquela hora foi grande, uma das mais belas da nossa terra...

A 20 de Novembro de 1881, numa sala da Assembleia Vimaranense, pelas 11 horas da manhã, a convite do Dr. Avelino Germano da Costa Freitas, Dr. Avelino da Silva Guimarães, Dr. José da Cunha Sampaio, Domingos Leite de Castro e Domingos José Ferreira Júnior, um numeroso e selectíssimo grupo de vimaranenses, em reunião entusiasta, querendo homenagear condignamente “o alto merecimento literário e científico do seu conterrâneo” do Dr. Martins Sarmento, resolveu criar uma “associação de instrução que, ao mesmo tempo, e pelo tempo fora, recordasse aos altos dotes intelectuais e de carácter de um verdadeiro sábio, glória da sua terra e da sua Pátria e, “contendo os gérmenes do mais largo e proveitoso desenvolvimento”, prestasse ao laborioso concelho os socorros e os incentivos de instrução, de que tanto carecia. Exposto o fim da reunião pela palavra reflectida e ardente do Dr. José da Cunha Sampaio, um notabilíssimo causídico, com o nome então bem vincado no foro português pela sua exemplar probidade e seu imenso saber, procedendo-se à leitura do relatório, elaborado pelo Dr. Avelino da Silva Guimarães, outro advogado não menos célebre, jornalista de larga envergadura e publicista muito distinto, que era também um grande apaixonado pelos problemas agrícolas e sociais, e do projecto dos Estatutos da Sociedade Martins Sarmento — promotora da instrução popular no concelho de Guimarães.

Estava na sala a fina flor da nossa sociedade, naquele dia de há cinquenta anos, e a discussão, em que tomaram parte o nobre Barão de Pombeiro, um verdadeiro fidalgo no trato, artista na arte de bem dizer, que traçou sugestivamente o perfil admirável de Martins Sarmento, encantando com o seu moço entusiasmo todos os assistentes, o ilustre Domingos Leite de Castro, que tão esmeradamente cultivou certos aspectos da ciência arqueológica e a todos se impunha pelo seu nome honrado, o saudoso vimaranense Francisco Ribeiro Martins da Costa, a quem a cidade de Guimarães deve os mais assinalados serviços, pois só curou da política para engrandecimento dela, o Dr. Rodrigo Teixeira de Menezes, que à nobreza do nome respeitado e insigne aliava singulares dotes de inteligência e de carácter. Alguns daqueles que, associando-se ao fim em vista, não tinham podido comparecer, enviaram cartas ou fizeram-se representar. Os Estatutos foram aprovados. Estava fundada a Sociedade Martins Sarmento. Faz hoje cinquenta anos.

Ao rememorar esta data, e não porque ela tanto se perca ou dilua na penumbra do tempo, sentindo-se imensamente pequenino, olha alucinado do encanto feliz e saudoso de tamanha grandeza: aquela hora foi grande, uma das mais belas da nossa terra, pelo pensamento que os alumiou com tão rara elevação; pela qualidade das pessoas das mais gradas e respeitáveis nos diversos ramos de actividade humana; pelo florido entusiasmo criador que transforma um desejo bem simples e natural, como o de prestar admiração a um homem eminente, uma ideia feliz e dela faz um monumento mais perdurável que o bronze, e, em vez de frio e morto como o bronze, em chama viva e fecunda, que vai espargir-se c alimentar com a luz da instrução o lar dos pequeninos, a oficina dos operários, e a barra do lavrador.

Como eu bendigo, alvoroçado, com íntima comoção, esses homens, e lhes quero beijar as mãos agradecido! Que fiquem nas páginas da História os nomes dos guerreiros audazes que cinturaram com os seus músculos, tornando-o invencível, o velho Castelo de Afonso Henriques, e com a sua carne e sangue argamassaram, de lá partindo, cantando ao Sol o nome da Independência, uma Pátria.

São bem dignos de todas as comemorações da posteridade.

Mas, naquele dia, e àquela hora, dentro daquela sala, corações afectivos e inteligências profeticamente lúcidas e perspicazes, elevaram um altíssimo monumento, criando-nos dentro da antiga cidade guerreira e medieval, e cidade nova do trabalho e do progresso.[1]

~*~

Ao encerrar o seu discurso, Eduardo de Almeida propôs que, finda a reunião evocativa, a direcção fosse cumprimentar António Leite de Castro e Fernando da Costa Freitas, filhos dos sócios iniciadores Domingos Leite de Castro e Avelino Germano da Costa Freitas, os sócios fundadores António Coelho da Mota Prego e António Augusto da Silva Carneiro, e que a Maria Constança Bandeira e António Vicente Leal Sampaio, filhos dos iniciadores Avelino da Silva Guimarães e José da Cunha Sampaio, fosse enviado o seguinte ofício:

A Direcção da Sociedade Martins Sarmento, ao comemorar hoje, em reunião extraordinária, o quinquagésimo aniversário da instalação desta colectividade vimaranense, monumento erguido com amor em homenagem ao maior Sábio da nossa terra, não podia deixar de relembrar, saudosamente, todos aqueles que lançaram como bons obreiros da inteligência, os primeiros alicerces para firmar uma Sociedade que é presentemente uma das mais prestigiosas do país. Por isso, V. Exa., neste momento soleníssimo de festa, em que todos nós, humildes servidores desta casa tão grande, nos encontramos juntos, em reunião de carinhoso jubilo e de recordação saudosa, para deixarmos vincada nas páginas da acta de hoje a nossa reconhecida gratidão á memória de todos os seus fundadores, não podíamos esquecer 0 nome ilustre de V. Exa. nosso digno consócio e um dos representantes do que foi um grande amigo desta casa, grande esteio, firme e talentoso duma obra maravilhosa fulgurantemente iluminada que ajudaram com persistência, cultura e entusiasmo a erguer no seio abençoado da terra de Guimarães. Aceite V. Exa., neste dia memorável, os nossos mais vivos cumprimentos, feitos de alma ajoelhada, pela recordação sentida e saudosa daqueles que deixaram em Guimarães, o seu nome marcado pela inteligência num padrão de glória, em honra de uma glória nacional, que foi Martins Sarmento.

~*~


Sociedade Martins Sarmento

Sócios iniciadores

Avelino Germano da Costa Freitas.

Avelino da Silva Guimarães.

Domingos José Ferreira Júnior.

Domingos Leite de Castro.

José da Cunha Sampaio.


Sócios instaladores

Alberto Sampaio.

António Augusto da Silva Carneiro.

António Cândido Augusto Martins.

António Coelho da Mota Prego.

António José da Silva Bastos.

António Peixoto de Matos Chaves.

António Ribeiro da Costa Salgado

António Vieira de Andrade.

Augusto Alfredo de Matos Chaves.

Barão de Pombeiro.

Conde de Margaride.

Domingos de Castro Meireles.

Domingos José de Sousa Júnior.

Domingos Martins Fernandes.

Francisco António de Sousa da Silveira.

Francisco José da Costa Guimarães.

Francisco Ribeiro Martins da Costa.

Gaspar Lobo de Sousa Machado.

Geraldo José Coelho Guimarães.

Jerónimo Pereira Leite de Magalhães e Couto.

João de Castro Sampaio.

João Dias de Castro.

João Ribeiro Martins da Costa.

Joaquim José Gonçalves Teixeira de Queirós.

Joaquim José de Meira.

José do Amaral Ferreira.

José Martins de Queirós Minotes.

José da Silva Basto Guimarães.

José Ribeiro Martins da Costa.

José Ribeiro da Silva Castro.

Luís Augusto Vieira.

Manuel Pereira Guimarães.

Manuel Ribeiro de Faria.

Rodrigo Teixeira de Menezes.



[1] Revista de Guimarães, vol. 42, 1932, p.p. 281-283.

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