Um dia destes, a caminho de casa, para os olhos num cartaz de campanha de uma candidatura à junta de uma freguesia vizinha. Tinha inscritas
três ideias programáticas: porco no espeto gratuito, insuflável e animação. Vivemos
tempos estranhos.
Tirando o porco no espeto e os insufláveis, a campanha não tem tido grandes novidades, a não ser algum ruído
mais do que o costume.
Novidade, novidade mesmo, são as sondagens. Sim, é sabido que em 2013 já
as houve, mas agora há mais e com diferentes cores e sabores. A principal inovação
é a de estarem a ser publicadas, não pela imprensa nacional, como antes, mas por
jornais cá da terra, numa inesperada manifestação de saúde financeira das
empresas que os sustentam.
Continua a ser de bom tom dizer-se que as sondagens valem o que valem e que a única sondagem é a das urnas. Até porque, diz quem sabe que as
sondagens para eleições autárquicas não são de confiança. É verdade, o que
não significa que não se deva analisar com atenção aquilo que as sondagens
indicam.
Até ao momento, para as autárquicas de Guimarães, conhecemos três
sondagens da empresa Eurosondagem, publicadas pelo jornal O Comércio de Guimarães, e uma da
empresa IPOM, que saiu no jornal Mais
Guimarães.
Esta última apresenta um resultado inesperadamente equilibrado, apontando para um empate
técnico entre o Partido Socialista e a coligação Juntos Por Guimarães. PS, 45,3 %; JPG, 43,1; CDU, 6,5%; Bloco 1,4% e… outro, 1,2%. Este “outro” é um mistério
quase do tamanho do insuflável do cartaz. A sondagem tem a data de 6 de
Setembro, quando o prazo para entrega de listas já estava encerrado há muito. Como só
há quatro listas as candidatas à Câmara (PS, JPG, CDU, BE), ninguém vai votar
em “outro”, simplesmente porque não há outro. Quem faz estas sondagens deveria fazer
“outro” esforço para conhecer a realidade com que trabalha.
Também muito ilustrativos do rigor da construção da amostra em que
assenta esta sondagem são os resultados a que chegou ao perguntar aos inquiridos
em quem é que tinham votado nas eleições de 2013. Votaram assim, dizem eles
(entre parêntesis, os resultados contados nas urnas): PS – 61% (47,6%); JPG – 33,3%
(35,7%); CDU – 1,7% (8,3%), BE – 1,5 % (2%). Como é que se pode acreditar numa sondagem feita com base numa amostra que nem sequer nos resultados de eleições passadas acerta?
Quanto aos estudos da Eurosondagem, nada nos garante que os seus
resultados sejam favas contadas. À cautela, recomenda-se que se espreitem as previsões
que esta empresa fez para as autárquicas de 2013, nomeadamente para o Porto ou para
Gaia.
Apesar desta reserva, é inegável que os estudos que esta empresa realizou para Guimarães
acabaram
por não andar muito longe dos resultados contados nas urnas. Por outro
lado, como já existe esse histórico de 2013, em que foram feitas três sondagens, a que agora se acrescentam três novos
estudos, assentes na mesma metodologia de constituição da amostra, de inquérito
e de análise dos resultados, é possível perceber linhas de tendência.
Observando os resultados dos estudos da Eurosondagem, conjugando-os com o
histórico dos
resultados das eleições autárquicas no concelho de Guimarães, desde logo
salta aos olhos uma evidência, que se pode avançar sem receio de errar: os resultados de 2017 não vão ser muito diferentes dos de 2013. No próximo
dia 1 de Outubro, parece seguro, apenas mudarão alguns rostos.
É notório que, desta vez, a candidatura liderada pelo PPD/PSD trabalhou mais
do que no passado próximo. Não vai ser por aí que vai perder as eleições.
Perde-as, acima de tudo, por força de uma má leitura de um dado central da sociologia
política vimaranense: em eleições autárquicas, em votos contados, Guimarães
sempre votou à esquerda. Sem excepção e, quase sempre, por larga margem. Logo,
qualquer estratégia para conquistar a Câmara terá que passar por conquistar votos ao centro e à
esquerda, o que não se faz seguindo a via do acantonamento à direita, onde não
tem onde ir buscar votos, porque esses já os tem praticamente todos. A aliança com uma organização política quase confidencial, da direita mais
retrógrada, chamada PPC/CDC, não atrai mais do que votos residuais, que
seguramente não compensam aqueles que afasta.
No entanto, a dinâmica da campanha tem criado a ilusão de que a situação
estará muito mais partida e que o Partido Socialista e a coligação JPG estarão
a disputar, taco-a-taco, o primeiro lugar no sufrágio, ideia que a sondagem do Mais Guimarães ajudou a construir (e que
é manifestamente vantajosa para o Partido Socialista). Pressentindo a ameaça, os
eleitores de esquerda tendem para o voto útil, votando na força melhor posicionada
para suster a ameaça. É a opção pelo mal menor, que até pode passar por “engolir
sapos”. Ora, nestas eleições, não há qualquer utilidade acrescida no reforço da
maioria absoluta do Partido Socialista, até porque esse reforço seria obtido,
muito provavelmente, à custa da única voz que se tem feito ouvir à sua
esquerda.
Pelos indicadores de que dispomos, pressente-se que o Bloco de Esquerda
continuará a ser um caso de estudo da política nacional: arranca bons resultados
em eleições nacionais, mas mantém-se consistentemente como uma força pouco relevante
em eleições locais. Pressente-se também que a CDU, por força da tendência para
o voto a que chamam útil, poderá estar próxima do limiar entre eleger ou não
eleger um vereador para o executivo municipal vimaranense. A diferença, percebe-se,
será de escassas centenas de votos.
Voto útil é aquele que pode fazer a diferença. Em Guimarães, voto útil à
esquerda é o que se junta para eleger quem possa fazer a diferença.
É a bem da diversidade e da saúde da nossa democracia local que o meu voto será
usado para eleger o Torcato Ribeiro. Uma voz que conta.
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