Estafeta da Amizade, 2016. Fotografia da Câmara Municipal de Guimarães. |
A identidade vimaranense é um
composto em cuja fórmula se amalgamam ingredientes de diferentes naturezas. Um
deles é a pulsão gregária epidérmica que sempre se manifesta em resposta às investidas
de desafectos exteriores à comunidade. Ao longo da História, os contributos dos inimigos
externos para a consolidação da identidade vimaranense têm variado em função dos tempos e das modas, mas há um elemento que é
constante: a eterna rivalidade, melhor dizendo, emulação, em relação aos
vizinhos que vivem do outro lado da Morreira, de onde, segundo o ditado, não
sopra bom vento.
Foi sempre assim. Escrevi foi, porque parece que está a deixar de
ser. Agora, vivemos tempos bem mais fraternais. É só paz, amor e amizade. Para anjinhos,
já só nos faltam as asas.
Tempos houve em que correrias
entre Guimarães e Braga correspondiam, quase fatalmente, aos de uma cidade a
serem corridos da outra. Não poucas vezes, à pedrada, como aconteceu na tarde de
má memória de 28 de Novembro de 1885, em que três dos mais ilustres e respeitados
cidadãos vimaranenses, representantes de Guimarães na Junta Distrital, foram
insultados, apedrejados e perseguidos pelas ruas de Braga.
Agora, corridas entre
Guimarães e Braga, só se forem Estafetas da Amizade. Assim mesmo, com maiúsculas e propósitos muito
elevados e benemerentes, como os de promover a “coesão territorial e
a igualdade de género”. Mais politicamente correcto
não poderia ser. Afinal, apesar do vento continuar a soprar como sempre soprou,
até parece que pode haver casamento.
Ó, como é linda a amizade!
[E eu a lembrar-me, vá-se lá
perceber porquê, do escarcéu que por aqui se levantou há um par de anos, quando
certo vereador da Câmara de Braga foi contratado para trabalhar para Fundação
Cidade de Guimarães, no âmbito duma relação de âmbito estritamente profissional.
Mudam-se os tempos…]
Um outro sinal estranho é o
que tem vindo a aflorar com a discussão à volta de parques de estacionamento em
Guimarães. De repente, percebemos que há entre nós um até agora insuspeito
séquito de admiradores do mesquitismo bracarense e da sua fúria de betão.
Temo-nos deparado com muitas manifestações desta novíssima afeição por parte dos que, rendidos
às virtudes do urbanismo braguês, vão proclamando, a diferentes vozes, que, para
Guimarães ser grande outra vez, o que precisa é de subterrâneos à moda de Braga. Eles serão, profetiza-se, a panaceia para todos os males que afectam a pobre e desvalida gente de Guimarães.
Ainda há dias, em resposta a um
comentário em que eu dizia que, em matéria de requalificação urbana, Guimarães
nada tinha a aprender com Braga, alguém que tenho por inteligente e presumo informado,
respondeu:
“Pois, neste aspecto, acho que
tem muito que aprender.”
A sério?
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