A Nossa Penha


O primeiro foi sobre os vimaranenses, o segundo sobre o trabalho, o terceiro, que ainda cheira a tinta fresca, é sobre a nossa Penha. São os Cadernos de Imagem da Secção de Fotografia do Cineclube de Guimarães, mas não são bem cadernos. Como nas edições anteriores, o Caderno de Imagens 3 é um livro, desta vez com muito verde, desenhado pelo Cláudio Rodrigues, e uma exposição, que está aberta no Museu da Sociedade Martins Sarmento. A não perder (depois, não digam que foi por falta de aviso…).

Do texto que escrevi para o "caderno", deixo aqui as primeiras linhas:

Cidade que se preze da sua condição tem que ter um lugar que, pela sua altura, se impõe no horizonte próximo. A montanha sagrada, aquele lugar da paisagem onde a terra se introduz pelo céu adentro. A de Guimarães chama-se Santa Catarina, mas o povo deu-lhe nome de pedra bruta, de rochedo, imóvel, inamovível e imutável: é a Penha, o triângulo rochoso que o homem pintou de verde e que se recorta no horizonte, servindo-nos de farol sempre que nos aproximámos de casa. Pelo seu corpo, de compleição rude e bravia, emaranham-se as veias por onde escorre, essencial e límpida, a água que sustenta de vida a terra e as gentes que se espalham pelo território que se alarga a seus pés. A Penha é a varanda onde, nos dias calmosos e de céu límpido que se seguem às tempestades, o nosso olhar se espraia pelas lonjuras do horizonte e alcança o mar.
A Penha é a muralha que protege Guimarães do vento leste e lhe faz chegar a luz do Sol nascente. Muitas vezes, aparece envolvida num manto branco de nuvens, de onde aflora o templo que Marques da Silva desenhou e que aponta o firmamento. Outras vezes, muito mais raras, cobre-se de uma outra brancura, que não é feita de nevoeiro, mas de cristal. Como aconteceu naquele memorável Fevereiro de 1853, em que nas terras de Basto a neve atingiu a altura de um homem, em que Fafe as árvores e casas não resistiam ao peso da neve, e em que do Marão nada se sabia, a não ser que os lobos vinham fugindo de lá. Por esses dias a serra de Santa Catarina cobriu-se com um manto tão espesso que os que por lá moravam tinham que abrir buracos nas casas para poderem passar comida uns aos outros. Mas essa terá sido a excepção: por regra, as gentes de Guimarães da neve na Penha só guardam imagens de encantamento e folguedo.
Da Catarina que lhe deu o nome, diz a lenda que atravessou os séculos que era uma jovem pastora, que conduzia pelas penedias da serra um rebanho de ovelhas tão imenso que chegava a cobrir de branco o cume do monte. […]

O resto (e muito mais e muito melhor) está na exposição e no livro, que está à venda no local da exposição, juntamente com os das duas primeiras edições.

As fotografias de Ana Catarina Pinho, Benjamim Ribeiro, Carlos Mesquita, Maria Oliveira, Sílvia Martins, Rogério Martins e Miguel Oliveira, e os textos de Paulo Vieira de Castro, Roriz Mendes, Francisco Brito, António Amaro das Neves, António Emílio Ribeiro e Carlos Poças Falcão.

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