5. El-Rei D. Manuel pela sua grande piedade procurou no seu
tempo que se recolhessem às Cidades e Vias insignes os corpos dos Santos que se
achavam pelas aldeias do Reino, e querendo que o de S. Torcato se tirasse do sítio
em que está, escreveu ao Cabido de Guimarães uma Carta, que se conserva no seu
Arquivo, cuja cópia é a seguinte: Cónegos
da Igreja de Guimarães, eu El-Rei vos envio muito saudar. Fazemos-vos saber que
Nós havemos por bem,que o corpo do Bem-Aventurado S. Torcato seja trasladado à
Igreja Colegiada da dita Vila, em lugar onde ao Prior parecer bem, o qual
levará o Breve, para se a dita trasladação fazer, e por tanto havemos por escusadas
as despesas, que se haviam de fazer, onde até ora jouve. E porém nós mandamos,
que deis ordem como se logo assim faça. Feita em Lisboa a 28 de Fevereiro de 1501.
Querendo o Reverendo Cabido de Guimarães dar satisfação à ordem de El-Rei, assentou
o dia da trasladação; porém não teve efeito, porquanto os moradores da Freguesia
te puseram em armas, e com tão valente resolução, que julgaram conveniente, o
não prosseguirem com o intento. Este teve também Ilustríssimo Arcebispo de
Braga de o trazer para a Catedral, e indo para este efeito à freguesia no ano
de 1597, tocaram o fino a rebate, e se ajuntou tanto povo para impedir ao Arcebispo,
que lhe foi preciso desistir da empresa. Escreve-se que perguntando ele a uma
mulher que estava entre outras pela roca ela lhe respondera: Senhor, estas são
as massarocas (mostrando-lhe umas poucas de pedras, que levava) para quem nos quiser
roubar o nosso Santo. Dele escreve D. Rodrigo da Cunha na História de Braga, e
Jorge Cardoso no Agiol. Lusitano para honra, e glória de Deus, que seja
eternamente louvado em seus Santos.
Boaventura Maciel Aranha, Cuidados
da morte e descuidos da vida, Oficina de Francisco Borges de Sousa, Lisboa,
1761, tomo I, pp. 244-246.
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