Em 1861 não se realizaram as
festas dos estudantes de Guimarães a S. Nicolau, devido à morte do rei D. Pedro
V no dia 11 de Novembro daquele ano.
As festas regressaram no ano
seguinte, tendo o pregão o mesmo autor e o mesmo pregoeiro do ano de 1860 (J.
F. Mendes de Abreu e Domingos Ribeiro da Costa Sampaio). Foi impresso na
Tipografia do jornal Religião e Pátria,
que aproveitou a composição
tipográfica para o publicar na sua edição de 11 de Dezembro.
BANDO ESCOLÁSTICO
RECITADO NO DIA 5 DE DEZEMBRO DE 1862
POR
Domingos Ribeiro da Costa Sampaio.
Perdera Lícia o
mais querido filho
Que à sua coroa
dava imenso brilho,
– A jóia de seu
trono valiosa,
E dos régios
jardins a for mimosa.
O rei magnânimo de
reis modelo,
Amante do seu povo
com desvelo,
Que às artes e às
ciências dispensara
O seu amor e a
protecção preclara,
– Verdadeiro
ornamento da virtude,
Ao túmulo desceu na
juventude.
Era justo que os
filhos da ciência
Respeitassem do
mérito a excelência
Do rei, que tantas
páginas de glória
Bem gravadas deixou
na luza história,
E de todos se fez
benquisto e amado...
………………………………………
………………………………………
Mas cesse a triste
ideia do passado!...
Cessem dores cruéis
e o justo pranto;
Cruéis lembranças
que magoam tanto!
Que já lá no
horizonte nova estrela
Se vai mostrando
radiosa e bela.
Já se arreiam
ginetes espumantes;
Ondeiam as
bandeiras triunfantes:
E os hinos
festivais e de alegria
Saúdam de Nicolau o
fausto dia.
Amanhã se verá
raiar pomposo
Dia solene de
inefável gozo;
Alerta, Guimarães,
embraça ovante
O teu aurífero
escudo rutilante:
Veste as galas da
festa mais vistosas;
Adorna a fronte de
purpúreas rosas,
E vem ter parte nos
folgares ledos,
Airosas danças,
infantis brinquedos,
Que nobres filhos
teus primando na arte
Contentes mostrarão
por toda a parte,
Com que às damas o
preito renderão
Do terno e sempre
firme coração,
Simbolizado na
modesta oferenda
De amor sincero
valiosa prenda;
– Louras castanhas,
carminados pomos –
Havendo em troco dum
sorrir assomos,
Companheiros fiéis
da simpatia,
Manifestos com toda
a bizarria.
Mas não pense por
aí qualquer janota,
Figure embora de
luzida bota,
Seja da moda mesmo
um figurino.
Em ter obrado com
prudência e tino.
Se amanhã com o
estudante encaretado
Vier por graça todo
empavonado
Figurar na
escolástica função: –
Quer seja de faceto
ou de pimpão.
Será loucura…cuide
no que digo;
Pois tomará decerto
por castigo
No tanque do Toural
um banho fresco,
Que em Dezembro
será não mau refresco.
Não pense em
resistir, em vão se empenha;
Então a coisa é
séria; – temos lenha!!!
Não lhe vale ser
mesmo um parvalheira
Se ousado se
arrojar a tal asneira,
Já desde longas
eras caprichosa
A nobre mocidade
estudiosa
Timbra por serem
com respeito ilesos,
Seus foros e
direitos indefesos.
Está ditada a lei,
somente resta
Avante anunciar a
nossa festa.
Rufem tambores,
zabumbas soem,
E vigorosos pelo
espaço voem
Os ecos triunfais altissonantes:
Escutem-nos os
povos mais distantes:
Haja deles notícia
em todo mundo,
Até nas regiões do
mar profundo.
J. F. M. de Abreu.
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