Escudo de madeira com as armas reais utilizado na cerimónia da "quebra dos escudos" (do Museu da Sociedade Martins Sarmento) |
11 de Abril de 1826
Fez-se nesta vila o acto
fúnebre da quebradela dos escudos por morte do I. e R. o sr. D. João VI,
dando-se princípio da maneira seguinte: Depois que o vereador mais velho
quebrou o escudo ou armas sobre um tablado que estava á porta da Câmara, montou
em um cavalo todo coberto de baeta preta e pegou em uma bandeira enlutada.
Estando assim este préstito disposto para continuar a cerimónia da quebradela
dos escudos. Marchou adiante uma companhia do regimento 21, atrás da qual ia a
música do mesmo regimento, tocando marchas fúnebres. Logo seguia-se o corpo da
justiça com capa e volta, atrás da qual ia o vereador mais velho como acima se
diz, junto do qual iam os magistrados, a Câmara e a nobreza, indo na
retaguarda o regimento n.º 21, Da praça de Nossa Senhora da Oliveira veio o
préstito pela rua Nova e terreiro de S. Francisco ao campo do Toura, onde o
segundo vereador quebrou o seu escudo num tablado aí preparado; do campo do Toural
foi pelo terreiro da Misericórdia, rua de Val-de-Donas e Carmo ao terreiro das
Claras, onde o terceiro vereador quebrou o seu escudo em outro tablado igual
aos dois, e ali se acabou tão fúnebre acto com a quebradela das varas de todos
os empregados e com três descargs de fogo dadas pelo regimento 21. P[ereira] L[opes]
(João Lopes de Faria, Efemérides
Vimaranenses, manuscrito da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, vol. II,
p. 28 v.)
D. João VI morreu
no dia 11 de Março de 1826, deixando o país com um problema de sucessão que só se resolveria definitivamente 8 anos depois, ao fim de uma guerra civil e fratricida Exactamente
um mês depois da morte do marido de Carlota Joaquina, realizava-se em Guimarães
a cerimónia da quebra dos escudos em que, seguindo um costume que já vinha
desde o tempo de D. João I se quebravam os escudos do rei morto, para serem
substituído pelos do novo rei. Os escudos eram em madeira pintada, existindo
dois exemplares no Museu da Sociedade Martins Sarmento, que eram usados em Guimarães
nestes cerimoniais fúnebres, e que tinham a peculiaridade de serem reutilizáveis
("partiam-se" em dois e voltavam à primitiva forma, graças a uma “dobradiça”
de couro colocada na parte de trás).
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