17 de Abril de 1732
Os mercadores da vila, 21 de
pano de cor e 9 de pano de linho, passam procuração, na nota de Jerónimo Luís
Machado, aos licenciados Manuel Pereira Soares, António de Freitas Sampaio e
António de Lima Melo, advogados nesta vila, a Marcos Fernandes Machado e Pedro
Gomes, aos licenciados Bartolomeu Moreira do Couto, Macário Rodrigues Cação e
Joaquim Machado Almeida, advogados na cidade do Porto, e aos solicitadores
Francisco Lourenço Cerqueira e António Ferreira de Araújo, para lhes defenderem
uma causa que traziam com a Câmara, sobre os quererem tirar da "sua posse
de dança do instrumento" que costumavam dar na procissão de Corpu Christi, pervertendo-lha em uma outra coisa. A Câmara queria que eles dessem os Anjos e
não a dança dos instrumentos.
(João Lopes de Faria, Efemérides
Vimaranenses, manuscrito da Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, vol. II, p. 48)
Antigamente, não havia em Guimarães
festa religiosa ou pública onde não houvesse danças e folias. Eram
manifestações de teatro ao gosto popular “com tanto ruído, extravagância e
confusão que os que andam nela[s] parecem doudos”, como escreveu Rafael Bluteau no
seu dicionário. Das festas do Corpo de Deus, organizadas
pela Câmara cinquenta dias depois do domingo de Páscoa, conhece-se mais de uma
dezena de danças e folias, a maior parte das quais repartidas pelos homens dos diferentes
ofícios, que tinham a obrigação de as dar (organizar e custear). Entre elas,
havia a dança dos instrumentos, que era assegurada pelos mercadores de panos
da vila. Estas obrigações originavam, com frequência, litígios entre os que as
tinham de dar e a Câmara. Assim aconteceu em 1732, quando a Câmara pretendeu
desapossar aqueles mercadores da sua posse da dança dos instrumentos, por querer que eles dessem um outro contributo para a festa. Não estiveram pelos ajustes.
Destas antigas tradições, apenas
sobreviveram até aos nossos dias as Danças de S. Nicolau, dadas pelos estudantes de Guimarães ao seu santo padroeiro.
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