S. Nicolau |
Em 1841 terá
havido festa. Para tal, foi nomeada, a 14 de Novembro, a respectiva comissão. Não
temos notícia acerca do pregão.
O ano de
1842 foi dos mais acidentados de que há memória: morreu um rapaz de 10 anos,
esmagado debaixo do pinheiro, que deu de si e caiu quando estava a ser
levantado, e incidentes entre estudantes e intrusos levaram à intervenção dos
militares, o que provocou uma forte reacção do povo, que saiu à rua a gritar “Fora
a tropa!.
O pregão deste
ano foi escrito pelo Cónego António José de Oliveira Cardoso e recitado por Frei
Inácio Pereira do Lago.
O pregão,
sem esquecer as bicadas do uso ao casquilho
e ao farfante, que se atrevessem a disputar os lauréis ao estudante (e ao
tanque do Toural no lodo imundo / foram de rojo baquear ao fundo), é capaz
de causar alguma admiração o tom galante e sensual, a bordejar um erotismo
quase inocente, dos longos versos que o autor dedica às Belas (Iremos todos, de
prazer arfando, / Rubros pomos colher, maçãs mimosas, / Para vir ofertar às
mais formosas. / Oh! oferenda que por nós colhida, / Toda ela é delícia, é toda
vida! / Provai-as; sentireis de amor ardente / Puro gérmen calar tão docemente).
Não esquecer que o autor do pregão era cónego e o pregoeiro era frade…
Bando escolástico – 1842
Lá de
Minerva na palestra dura,
Que a mente
esmalta, que a razão apura,
A tenra
juventude, noite e dia,
Cruas
fadigas sem cessar curtia.
Só meigo
olhar de mágica beleza
Via a furto
dourar sua tristeza.
E o velho
tempo, que veloz girava,
Parece que
de manso se arrastava.
Mas alfim
Nicolau, o justo, o santo,
Seu dia
volve, suspirado há tanto.
Pesado véu,
que o espaço enegrecia,
Já com as
asas dissipa alma alegria.
Tudo em torno
sorri para que ovante
O seu brilho
ostentar possa o estudante.
Como entre
os gelos, que no monte alvejam,
Surgem
boninas, que loucas flamejam!
Pois é só
para honrar a função nossa,
Que em
nossos peitos o penar adoça.
Exulta
Guimarães todo alegria,
Que o teu
vai despontar mais fausto dia.
Recamos de
ouro, púrpuras fulgentes,
Trajando os
filhos teus, todos contentes,
Ao ver
nossas bandeiras tremulando,
Vão palmas,
vivas mil ao ar lançando.
E vós, ò
belas, que no mar da vida
Sois luzente
farol, remanso à lida,
Ò belas, ah!
de rosas enastrada,
Essa prisão
de amor, madeixa ondada,
Nas janelas
mostrando o níveo rosto,
Para nós
apurai ternura e gosto.
Depois que a
rósea Aurora no horizonte
Rociar com
seus cristais o prado, o monte,
Espumantes
corcéis assoberbando,
Iremos
todos, de prazer arfando,
Rubros pomos
colher, maçãs mimosas,
Para vir
ofertar às mais formosas.
Oh! oferenda
que por nós colhida,
Toda ela é
delícia, é toda vida!
Provai-as;
sentireis de amor ardente
Puro gérmen
calar tão docemente.
Mas ah! se repelis
nossa ternura,
Qual as
vagas repele a rocha dura,
Se baldos
forem fervidos extremos,
Que tão do
peito só por vós fazemos,
Não fieis na
beleza encantadora,
Por de
Paris, o pomo haver outrora;
Em justa
pena dos repúdios vossos
Só castanhas
tereis, tereis tremoços,
Que às mãos
cheias nas ruas prodigámos
Às velhas,
aos rapazes, que encontrámos.
Oh! volvei
para nós, volvei piedosas
Essas cópias
do céu, faces mimosas.
Em tão puro
jasmim, tão alta neve,
Um ósculo
imprimir nenhum se atreve.
Se em vossos
lábios um sorriso adeja,
É todo o
prémio que o estudante almeja.
Nem vós lhe
negareis ventura tanta,
Que a vossa
gratidão a fama canta.
E que! se
polidez, se alma virtude
Partilha são
da sábia juventude,
Se sempre os
lábios expressões derramam
Que todas
mimo os corações inflamam,
Qual há
casquilho aí, qual há farfante
Que dispute
os lauréis ao estudante?
Vale o
ouropel com que a rudeza ocultam
Sublimes
dons, que tanto em nós avultam?
Mas no
crastino dia, oh! lá nos montes
Devem de
pejo acobertar as frontes.
Quais podem
ante vós, de graça cheias,
Ledas farsas
travar, travar coreias?
Só Nesta
figurar função preclara
É dado de
Minerva à prole cara.
Lei justa e
santa, que de longas eras
Com penas
vigorou as mais severas.
E no bronze
gravada em nossa idade, (a)
Parelhas
correrá com a eternidade.
Já neste dia
de imortal memória
Ousarão mil
e mil tão alta glória
E ao tanque
do Toural no lodo imundo
Foram de
rojo baquear ao fundo;
Que insultem
outra vez a lei sagrada,
Que outra
vez volverão ao lodo, ao nada;
Lanças enristem,
arremessem pelouros,
Jamais da
fronte nos cairão os louros;
Com a égide
de Minerva o aluno forte
No campo da
batalha é raio, é morte.
“Cesse tudo
que a musa antiga canta,
“Que outro
valor mais alto se alevanta.
Eia, pois,
sócios meus, eia, mostremos
à terra, ao
mar, ao céu, quanto podemos.
Rufem
tambores, as trombetas soem,
Lá pelo
vale, e pela serra ecoem;
E os sons
festivos recolhendo Éolo
Vá nas asas
levar de pólo a pólo.
FIM
(a)Estatutos
que se fizeram em 1837.
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