Pensada
havia alguns anos, a Associação Artística foi fundada no dia 10 de Novembro de
1869, tendo aprovado os seus primeiros estatutos quatro dias depois. A
inauguração da Associação aconteceu no dia 6 de Fevereiro de 1870. Logo de
madrugada, as duas bandas de música de Guimarães percorreram as ruas da cidade, anunciando a
festa. O mesmo fizeram ao meio-dia. A sessão inaugural decorreu no Teatro D. Afonso
Henriques, com numerosa assistência de artistas, que aplaudiram os discursos
proferidos por membros das comissões instaladora e definitiva. No final, as bandas
de música, depois de tocarem alternadamente à porta do teatro, voltaram a
percorrer as ruas, animando o cortejo que então se formou.
O projecto definitivo do edifício
que a Associação de Socorros Mútua Artística Vimaranense mandou erigir na rua
de Gil Vicente para instalar a sua sede tem o traço do arquitecto veneziano
Nicola Bigaglia (1841-1908), autor de vasta obra em Portugal, onde viveu desde
a década de 1880 até às vésperas da sua morte, na sua Veneza natal. Em 1881, ainda antes da intervenção do arquitecto italiano, já andava em
construção, recolhendo-se fundos para suportar as obras. No Verão desse ano
realizar-se-ia um bazar de prendas, para ajuda dos gastos com as obras. O
salão-teatro da sede da Associação Artística seria inaugurado no dia 14 de Dezembro de 1884, com a representação de uma opereta em três actos intitulada Três casamentos na aldeia.
A frontaria
do edifício começou a erguer-se no início de 1893, segundo o desenho de Bigaglia, que também é o autor do emblema que foi colocado por cima
da porta principal. À altura, era presidente da Direcção da Associação
Artística João Pinto de Queiroz, proprietário do periódico vimaranense Religião e Pátria, que se apresentava
como religioso, político e noticioso.
Quando, em
1905, rebentou a polémica provocada pela destruição do emblema que desenhara
para a fachada do edifício, por alguém ter visto nele um símbolo maçónico, o
arquitecto Bigaglia saiu a terreiro a desmentir essa interpretação,
esclarecendo que apenas pretendera simbolizar ali as artes, ou seja, os ofícios representados pela Associação. Todavia, num comentário a um texto anterior, que aqui se publicou, alguém me chamou a atenção para a existência no interior
do edifício de elementos que normalmente se associam às lojas ou aos templos
maçónicos, nomeadamente as colunas e o chão em mosaico preto e branco, o que, aparentemente, entraria em contradição com o que o autor do projecto do edifício afirmara.
Pormenor do Salão Nobre da Associação artítica Fotografia encontrada em http://www.triplov.com/coloquio_06/ASMAV-EXPO/Asmav1.htm |
É certo que
as colunas e o mosaico preto e branco são elementos fundamentais da complexa
simbologia dos pedreiros livres.
As colunas representam
os limites do mundo criado, o masculino e o feminino, a vida e a morte e
remetem para as duas colunas que se encontravam à frente do Templo de Salomão,
designadas de Boaz e Jachin (daí as letras B e J que, muitas vezes, aparecem em
colunas dos templos maçónicos). Na linguagem maçónica, a expressão levantar colunas é utilizada quando se funda ou se reactiva uma loja, enquanto que abater colunas se emprega apra indicar que uma loja deixou de funcionar. Já o mosaico em quadriculado preto e branco,
também conhecido por quadrado longo, representa também forças antagónicas,
como o bem e o mal.
É inegável que estes elementos decorativos, assim como
outros igualmente existentes no edifício da Associação Artística, remetem para
a complexa simbologia maçónica. Todavia, nada têm a ver com a natureza original
daquela associação de carácter mutualista, cuja principal preocupação era a
protecção das viúvas e dos órfãos dos seus sócios falecidos, em memória dos
quais mandava celebrar, todos os anos, no dia do seu
aniversário, uma missa Igreja de S. Francisco. São, tão-somente, ornamentos de introdução recente. Postiços, portanto.
PS: Segundo o excelente Guia de Arquitectura de Guimarães, de Eduardo Fernandes e Filipe Jorge, editado em 2012 pela Argumentum, o arquitecto Nicola Bigaglia terá tido, possivelmente, uma outra intervenção em Guimarães, na renovação do Paço de S. Cipriano que teve lugar em 1900.
PS: Segundo o excelente Guia de Arquitectura de Guimarães, de Eduardo Fernandes e Filipe Jorge, editado em 2012 pela Argumentum, o arquitecto Nicola Bigaglia terá tido, possivelmente, uma outra intervenção em Guimarães, na renovação do Paço de S. Cipriano que teve lugar em 1900.
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