No terceiro
volume da sua obra Mesteres de Guimarães,
A. L. de Carvalho fala da chinela de Guimarães:
Ficaram ainda
as chinelas de mulher.
Como que a
darem-lhe tipismo, distinguem-nas, no singular, por — chinela de Guimarães.
Sendo assim, é
então certo que Guimarães, na etnografia da chinela de mulher, tem o seu padrão
próprio, inconfundível.
Talhada para
ser, na sua maioria, usada por gente de pé descalço, sua forma é calçadeira,
um tudo nada rasa, embora de bico aguçado. Seu tacão é baixo, todo em sola,
esganado ao meio. Cabedal preto, em verniz ou vitela da terra. A gáspea, no
peito do pé, é bordada com retrós de cores, — se a chinela não é para viúva;
porque se é, então será lisa.
Um pormenor:
A chinela de
Guimarães tem a gáspia ligada à calcanheira, e esta é acalcanhada.
É esta a
chinela antiga de Guimarães, aquela que alcançou conquistar alguns mercados em
terras transmontanas, embora outros tipos modernos a venham fazendo recuar à
sua origem.
Aqui ficam
estes elementos, que bem podem fazer parte de uma monografia curiosa, dada a
multiplicidade de chinelas que se vêem por terrinhas de Portugal.
E tanto se
usaram! Basta atentar na tricana aveirense — o mais belo tipo de mulher pelo
seu doairo e traje antigo — para se ver como o sapato anda avassalando a
popular chinela.
Assim é por
toda a parte.
Faz a chinela,
dentro dos seus domínios, esforços por não morrer.
Basta reparar, em nossos dias, na variedade dos
seus recortes e enfeites, — verdadeiras obras-primas de “gaspeadeiras”
artistas.
*
Estas artistas
"gaspeadeiras" não vêm do passado. Pertencem à idade da máquina — a máquina
de braço, com a qual em seu início era de uso trabalhar mais o homem do que
a mulher.
Esta máquina
de coser, de cravar, fez na sua alvorada — uma revolução!
O sr.
Francisco “Sequinho”, chineleiro, que já há muito atravessou os setenta,
contou-me: que, no seu tempo de rapaz, quase toda a obra era cosida à mão.
E acrescentou:
— Ganhava
um tostão por dia, mas tinha de debruar uma duzia de pares de chinelas; quando
não, caia-me no lombo o tira-pé!
Bons fregueses da chinela eram os homens e as
mulheres do mar da Póvoa. Quando em bandos, a pé, aqui vinham à romaria grande
de S. Torcato, não deixavam de se abastecer de chinelas — a acreditada chinela
de Guimarães
A. L. de Carvalho, Mesteres de Guimarães, vol.
III, 1942, pp. 170-171
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