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Ausente de Guimarães por alguns
dias, acompanhei de longe a polémica que se reacendeu à volta do Toural, agora a
propósito da colocação da obra de arte em
forma de varandim dourado. Tendo-o visto hoje, com olhos de ver, suscita-me
algumas reflexões.
1. O meu contacto com esta obra
foi antecedido pelo visionamento de uma entrevista da autora daquela
intervenção, a artista Ana Jotta, ao site Guimarães Digital, com declarações que
não me pareceram particularmente felizes. Dizer que o Toural, tal como o
conhecemos antes da configuração que agora apresenta, era “uma praça dos anos
50, mais ou menos” é sinal de que o “trabalho de casa” não foi bem feito. O Toural
anterior a 2011 foi desenhado exactamente um século antes, na sequência da
instauração da República, tendo sido completado no final da década de 1920 com
a colocação do mosaico de quartzito e basalto. O único elemento da década de
1950 que lá existia era a fonte-monumento.
Por outro lado, julgo depreender da
entrevista em referência alguma confusão na descrição do processo de produção
da grade do Toural. Ao contrário do que a artista afirma, a fundição em molde
de areia é um processo eminentemente industrial. Artesanal é o trabalho do ferreiro,
o mestre da forja, do fole, da bigorna, do martelo e das tenazes, cuja arte tem,
em Guimarães, larga tradição e notáveis artistas. Basta espreitar, sem sair do
Toural, a loja do Ferreira da Cunha ou conhecer a oficina do artista que, ali
para a rua de Donães, dá pelo nome de Gaspar Carreira.
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O mais surpreendente da
entrevista é a afirmação de que “as pessoas gostam de vandalizar seja o que for”,
a que subjaz a ideia de que o destino daquela obra é ser vandalizada. Ora, se
há terra onde tal asserção não faz o mínimo sentido é Guimarães. Aqui, as
pessoas não “gostam de vandalizar”. Bem pelo contrário. Em Guimarães, as
pessoas estimam e preservam o seu património. E fazem-no com tais cuidados que
a cidade ganhou o estatuto de Património Mundial.
2. Não me parece que varandim
seja o nome mais adequado para aquele objecto. Um varandim é uma espécie de
varanda estreita, colocada num ponto elevado, em geral com vistas privilegiadas
sobre a paisagem. O que se encontra no Toural tem o nome de grade ou, para ser
mais exacto, gradeamento. Varandim é pseudónimo ou nome artístico.
Gradeamento do Toural (pormenor) (clicar para ampliar) |
Grade de varanda do Toural, em ferro forjado (pormenor) (clicar para ampliar) |
3. O gradeamento do Toural é,
como a artista o assume, uma cópia do que já existia no Toural, como se percebe
olhando para a varanda de um dos edifícios que se encostam à basílica de S. Pedro. No entanto, o original, em ferro forjado, ganha em finura e elegância.
4. Desde Dezembro que nos fomos
habituando ao Toural com a sua renovada condição se praça ampla e desimpedida.
O gradeamento introduz uma barreira na praça e alguns engulhos no argumentário
de quem se afeiçoou à nova praça e agora olha para a grade como um corpo
estranho.
5. O revestimento a ouro do gradeamento
é um barroquismo que se estranha. O dourado não integra a paleta de cores com
que se pinta a cidade de Guimarães. Não faz parte da nossa cultura urbana.
6. Na minha opinião, de adepto confesso
do projecto de requalificação do Toural, o gradeamento dourado está a mais. Não
havia necessidade. Por mais que as busque, não encontro razões de natureza
funcional nem de ordem estética que me suscitem simpatia por aquela instalação artística.
7. No entanto, neste caso, como
em tantos outros, o modo como o tempo nos fará olhar para o gradeamento resultará
da forma como as pessoas se apropriarem dele. E, em vez do vandalismo anunciado,
vejo uma singular manifestação de bem-querer, que replica uma tradição que se
vai espalhando pela Europa, a dos “cadeados de amor”, neste caso de amor pela
cidade.
Pont des Arts, em Paris, onde os namorados celebram o seu enamoramento prendendo cadeados no parapeito da ponte, lançando as chaves ao rio. (clicar para ampliar) |
Um dos aloquetes "afixados" na grade do Toural. (clicar para ampliar) |
6 Comentários
Aquela peça sem nome vem coroar toda a "obra da artista": retirar à Cidade (a nossa Guimarães) a memória da década de 50, anular a celebração do Milénio, trocar um belíssimo jardim por uma eira com um mapa perfeitamente estúpido!Tudo bem na pressa de gastar fundos; tudo mal no desrespeito pelas realizações de Vimaranenses de outros tempos!
A minha esperança de que um dia a Cidade se redima do crime cometido e a autora, a artista, se previna de conhecimentos básicos antes de dar entrevistas e mesmo de tentar a "arte" de "despir uma praça datada" para nos mostrar "as paredes que os vimaranenses não viam"!
Eu agradeço à "artista" que se especialize em rotundas, lá para os lados onde mora, e não nos venha explicar o que é fundição ou forjado, coisas de que não sabe patavina. Esse tal de "varandim dourado" não merece o seu temido vandalismo pois não passa de uma "coisa" a ser retirada dali, tal como o suposto Afonso das Portas da Vila. Amanhã mesmo, se não puder ser hoje, no respeito que a Cidade nos merece.
Quanto ao conteúdo do Vosso escrito e por ele mesmo, começo por dizer que. por certo pela minha pouca habilidade para lidar com as novas tecnologias, que olho sempre com a cautela, que a grande Pedagoga Maria Borges de Medeiros, falando de coisas da Educação/Pedagogia, exigia alertando para o "perigo das técnicas e tecnologias". Por esse meu pouco saber tecnológico, dizia, não decifro com quem falo.Ilustre desconhecido/a, pois. Prossigo dizendo que começamos de campos não dgo opostos, mas bem demarcados. O meu (minha) Ilustre Amigo/a é de "confesso" admirador do novo Toural. Eu NÃO!!! Com esse NAO publiquei no Diário do MInho um artigo de opinião : Como acabar de vez com a cultura, que, como sabe, é título de um livro de WOODY ALLEN Ali disse a razão, repito-a agora, desdobrando-a em razões. 1 - A Obra (termo perfeitamente adaptado ao que ali está, isto é, produto de quem obrou)do Toural é um atentado ao Património herdado que nos obrigámos a respeitar se digno e dignificante como era o caso do Toural existente.
2 - Acresça-se a esse desrespeito o desrespeito pela CULTURA, logo no ano em que Guimarães é Capital da Cultura. Isto porque, sendo CULTURA (não onfundir, como é comum, com BENS DA CULTURA) a "Síntese da cção do HOMEM através dos séculos", destriundo o Toural destroi-se uma manifestação (síntese) da CULTURA de GUIMARÂES e de PORTUGAL.
3 - Porque a obra ali obrada, não pasas, para mim, de uma EIRA, na linha da monomania dos grandes Arquitectos (com todo o respeito que tenho pelos Arquitectos, cujo um filho meu é)de aversão aos espaços verdes, preterindo-os pelo deserto do vazio enorme. Confronte, por favor, o Campo da Vinha em Braga, e os Aliados no Porto, para não ir mais longe. Recorde, a propósito dos nosso grandes Arquitectos que em Madrid só não se destruiu o Património e Cultura herdados (projecto de um nosso grande Arquitecto) pela força da nobreza e do dinheiro da Senhora Thissen,
4 (A juntar obrigatóriamente ao 3 da conta que Deus fez, desde que Dumas juntou D'Artagnan aos Três Mosqueteiros) A objectiva e incontestável razão principal, já que as demais são subjectivas (por isso a obra deveria ter sido submetida a referendo) - a absoluta desnecessidade da obra. Em tempo de Crise, quando o Funcionalismo Público é assaltado e roubado com mais descaro do que os seculares assaltos nos Pinhais de Leiria e Azambuja; quando nada se faz para por fim ou minorar o desemprego; quando se despezam os idosos e os doentes, gastar 25 milhões numa obra que razão alguma impunha é um insulto que leva ao extremo a minha indignação.
Indignação que permite dizer, com o pedido de desculp aobretudo se me estou a dirigir a uma Senhora, a coberto do eufemísmo de um linguajar vicentino, que eventualmente vimaranense terá sido, que o Varadin da Ana Jota (com todo o respeito) não mais é (desculem lá, insisto) que uma CAGADA Sobre uma Merda. Fraternalmente