Subsídios para a história do léxico nicolino


Para a compreensão das Festas Nicolinas e da sua evolução histórica, é preciso compreender o seu léxico. Desde logo, os nomes das festas e dos seus números. Já percebemos que a designação Festas Nicolinas apenas apareceu quando já era entrado o século XX. Antes, eram designadas por festejos escolásticos ou por festas dos estudantes a S. Nicolau. Também os nomes dos números que compõem o programa das festividades tiveram o seu dinamismo no decurso do tempo.

De todos os números, o mais antigo será o das danças. Os documentos mostram que os estudantes de Guimarães já as faziam em meados do século XVII. Também podiam ser chamadas de folias ou comédias. Continuam a chamar-se danças.

As posses são um número que se mantém praticamente desde a origem das festas tais como as conhecemos. O nome deste costume vem da posse da antiga renda de Urgezes, que era devida aos coreiros da Colegiada. Ao longo do século XIX, esta designação estendeu-se à recolha das posses (ofertas) de particulares aos estudantes.

A referência mais antiga ao pregão, também conhecido por bando escolástico, aparece no pregão mais antigo que conhecemos. É de 1817 e foi escrito pelo médico e poeta João Evangelista de Morais Sarmento. O pregão de hoje é algo diferente dos mais antigos, mas mantém o nome original.

Já o pinheiro, com esta designação, é mais recente, aparecendo na segunda metade do século XIX. Antes disso, as referências ao acto inaugural das festas a S. Nicolau falavam no levantamento do mastro ou da bandeira das festas, quase sempre sem indicação de que o "pau da bandeira" seria um pinheiro.

As roubalheiras são um número recente das festas, tendo surgido aquando do ressurgimento de 1895. Inicialmente, chamavam-lhe rapto das tabuletas. Só a partir de 1899 é que começámos a encontrar o nome que hoje se lhes dá. Este tem sido o número mais mal-amado das festas, tendo sido frequentemente objecto de condenação na imprensa local. Ao longo do tempo, foi banido diversas vezes do programa.

As maçãzinhas, sendo um dos números mais antigos das festas, em que os estudantes distribuíam pelas moças de Guimarães, sem esquecer as freiras de Santa Clara, boa parte da renda que recebiam em Urgezes, que incluía, além de tudo o mais, dois centos de maçãs. Já nos primeiros pregões apareciam referências à entrega das maçãs rubicundas ou dos pomos do amor às damas de Guimarães, no dia 6 de Dezembro. Aliás, não eram só maçãs que os estudantes levavam às raparigas: em meados do século XIX também ofereciam, cravados na ponta das suas lanças, “açucarados bolos” e “lourejantes castanhas, de mistura com amêndoas, uvas de Alicante, e outras especiarias”. Este número era então chamado de distribuição das maçãs. Só em 1911 é que nos aparece, pela primeira vez, a expressão “distribuição das maçãzinhas”. Lentamente, chegar-se-ia à designação “cortejo das maçãzinhas” ou, simplesmente, “maçãzinhas”, denominação que seria “oficialmente” consagrada no programa das Nicolinas a partir do ano de 1961.

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DANÇAS
Em 1942 "Danças dos Estudantes Aposentados" que foram uma nova reposição (pelos "novos") das "Danças dos Velhos" de 1901 da autoria de Braulio Caldas. Em 1960 foram "Danças Nicolinas", a partir de 1983 "Danças de S.Nicolau".

Das Danças "Visita Régia à cidade das Maravilhas" de 1924:

Hino da Cidade
Oh! Guimarães de D. Afonso Henriques
O nosso hino a ti se canta,
Das mais cidades, atrás, tu não te fiques,
P'ra te saudarmos com trinados na garganta.
Oh! Guimarães de D. Afonso Henriques...
Tem cautela... não te piques.

Em ti cidade a natura é mais fecunda,
Da luz do sol mais viva a claridade...
E, quando a noite de trevas tudo inunda,
E' de crêr que seja grande a escuridade.
Em ti cidade a natura é mais fecunda;
Nas ruas, a erva, prova esta verdade.
Em ti cidade
«In-fólio»
Já tens também... uma mina de petrólio

Tens uma Penha altiva, pedregosa,
Himalaia de beleza natural,
Aonde a morte, mesmo tuberculosa,
Acharia uma cura radical.
Tens uma Penha altiva e pedregosa
Com um Hotel-Hospício, sem igual!
Mas ascensor,
Que tormento!
Só se for... qualquer burro lazarento.

O teu perfume deleita e extasia,
Embora pense alguém que não;
Chega até a causar anestesia,
Tal é do cheiro a terrível fortidão.
O teu perfume deleita e extasia,
Entra p'las raízes do co.. .ração.
E pela noite
Ai meninos!
São nevoeiros de peste ultra-londrinos.

Oh! Guimarães dos garfos e das facas,
Dos bons copos e canecas de lei!
Tens a Sé, uma ponte, Paço e marcas
Por não ter's bispo nem rio nem o rei.
Oh! Guimarães dos garfos e das facas.
Oh ! Berço bendito da lusa Grei.
Só diremos
Que é inflícia
Tu não teres o teu corpo de... polícia.