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O jornal
Fraternidade começou
a publicar-se no final de Janeiro de 1870, substituindo o jornal
Vimaranense. Apenas
sabemos que foi o seu administrador e responsável, António Vieira
Correia da Cunha, que, até aí, exercia as mesmas funções no
Vimaranense. Imprimia-se na Tipografia Fraternidade e tinha
escritório na rua Escura (actual rua Gravador Molarinho).
Publicava-se duas vezes por semana, às terças e às sextas-feiras.
Apresentava-se como “jornal político e noticioso” e era afecto
ao Partido Progressista. Não é certo quanto tempo tenha durado, mas
terá terminado a sua existência no Verão de 1870, uma vez que em
Agosto desse ano já se publicava novamente o Vimaranense,
com o mesmo aspecto gráfico, o mesmo responsável e a mesma sede do
Fraternidade.
Num texto
intitulado “Guimarães”, publicado no n.º 2, de 1 de Fevereiro
de 1870, dá-se a seguinte imagem da cidade:
É duro e
custa a sofrer, quando lá por fora ouvindo falar em desproveito de
Guimarães, não podemos alçar a voz em nosso desabono
e temos de abafar em nós mesmos a
Indignação e o desespero.
E que
poderá dizer um homem, que vindo a Guimarães, entre num botequim e
pernoite numa das nossas hospedarias? Por certo que não pode ajuizar
bem.
Os
botequins, à excepção
de um, são viveiros de vadios que, falando o mais livremente
possível, jogam as mais pesadas “larachas” e as mais inauditas
grosserias ao primeiro
desconhecido que aí entre, seja ele da
condição que for. As hospedarias são viveiros de toda a espécie
de imundície, tendo ainda o hóspede às vezes do lutar com a
estúpida “carolice” de um dono de casa, que sem notar um
impedimento de saúde lhe nega carne à sexta-feira
por ser dia de jejum! Enfim Guimarães de
há um século, é o mesmo
Guimarães de hoje. E a razão é óbvia.
Desde longos
tempos que aqui se têm gladiado cobardemente dois partidos ou antes
duas facções, das qnais resultava apenas a corrupção e a
arbitrariedade.
É a estes
inconvenientes e não a outros, que podemos atribuir a causa mediata
do nosso atraso, porque estes são nossos contemporâneos e de outros
não temos conhecimento.
Arvorados em
autoridades os chefes
destes dois partidos eram corruptos, como eles muitas vezes o
confessaram mutuamente nas duas “luminárias”, que então eram
seus órgãos, e por este motivo é evidente que levavam os povos à
corrupção, e as autoridades subalternas
à morosidade e ao desleixo. — As
câmaras eram eleitas a seu modo. Para vogais eram escolhidos pelas
aldeias, gente que influísse nas eleições e se algumas vezes a
muitos pedidos e empenhos se formou uma câmara, composta de
homens ilustrados e independentes, estes
encontravam as dependentes, estes encontravam as coisas em tal
disposição, que se metiam à “mouta” para não cair sobre eles
o estigma da opinião pública.
Eis o motivo
porque não temos caminhado: autoridades cuidavam apenas muito de si,
e os vimaranenses já aclimatados
a este despótico proceder, persistiam em
se calar, e sofriam silenciosos as suas arbitrárias determinações.
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