A observação em pormenor da planta do
engenheiro Almeida Ribeiro permite perceber que os elementos que aparecem
na primeira linha do antigo terreiro do Carmo, na pintura de que temos falado, atribuída a Roquemont, se encontram na disposição que tinham efectivamente (o
chafariz encontrado à linha de casas que se lhe seguia para poente, com o tanque
saliente, o Passo do lado do nascente e um pouco recuado em relação àquela
linha). Na década de 1890, tendo em vista o
alargamento do espaço onde seria implantado o jardim, o chafariz foi transferido para a Rua de Santo António, para o local onde hoje existe um tanque contemporâneo, o
passo, foi deslocado para junto da igreja do Carmo e as casas foram demolidas.
Assim sendo, continua a sobrar o
mistério da torre. O mais certo é tratar-se de um exercício de inventiva do
artista, que colocou numa nesga que se abria atrás do chafariz, entre construções
mais elevadas (a nascente, o Passo, a poente, uma casa), um pormenor de uma
torre que, tanto pela forma como pela localização, não poderia ser do Paço dos
Duques (que, à época, não teria uma configuração muito diferente daquela que se
observa na foto que vai abaixo).
Revisão da matéria: O chafariz de Guimarães (ou Cena de Província) Pintura atribuída a Auguste Roquemont, 1825-1835 (clicar para ampliar |
A fachada voltada a poente do Paço dos Duques, numa fotografia do início do séc. XX. Nenhuma semelhança com a torre de Roquemont. (clicar para ampliar) |
O Passo do Carmo, no seu local de implantação actual. Antigamente, situava-se no espaço hoje ocupado pelo Jardim. (clicar para ampliar) |
7 Comentários
Estaremos a falar do mesmo tanque?
É que há algumas diferenças,não só no tamanho, bastante significativas.
Será que estamos perante um mito?
Segundo João Lopes de Faria, na data que indico acima, “foi arrematada a obra da mudança do tanque do largo do Carmo para a rua Nova de Sto. António. Este tanque em 1927 foi mudado para mais abaixo, sul, e fizeram-lhe de novo, mas muito diferente, a cruz que em cima a coroa de armas”. Julgo que a redução do tamanho do tanque terá tido lugar aquando da primeira mudança, para evitar que atrancasse em demasia a rua de Santo António.
Ao contrário do que disse no comentário anterior, a tranferência do tanque do Carmo para o Largo dR. João da Mota Prego não aconteceu em 1927. Nesse ano, o tanque apenas mudou de poiso (foi “mais para Sul”), mas sem sair da rua de Santo António. A mudança para o local onde hoje se encontra apenas aconteceu na década de 1960.
No Comércio de Guimarães de 5 de Maio de 1963, encontro a seguinte nota com o título “Aquele recanto...”:
"Como é sabido, desapareceu o tanque que há muitos anos já, existia na rua de Santo António.
Disseram-nos em tempos que no seu recanto ia surgir uma nova modalidade, que embelezaria o local.
Até hoje, o caso está sem solução. No entanto, aquele terreno precisa ser ocupado, de forma a que o muro que lhe forma o fundo, possa ficar encoberto."
Segundo o mesmo jornal, na sua edição de 17 do mesmo mês, a Câmara decidiu, no dia 3 anterior, “Aprovar os trabalhos do abastecimento de água ao tanque transferido da Rua de Santo António para o Largo Dr. João da Mota Prego”
As figuras, dentro do Passo, não me parecem as mesmas.
Será que a gravura é de Guimarães? Se sim será do local que estamos a falar?
Há, de facto, algumas diferenças. No essencial, o chafariz é idêntico. Acredito que as diferenças que se observam possam resultar de alterações ocorridas aquando das sucessivas trasladações a que foi sujeito (que se saiba, esteve, até hoje, em quatro sítios diferentes e não me parece fora de propósito pensar-se numa nova mudança, devolvendo-o à origem). Quanto às alterações que em 1927 estão testemunhadas por um contemporâneo (João Lopes de Faria).
As diferenças no passo não me parecem tão significativas como as que se observam no tanque. As portas, sendo de madeira, já não devem ser as originais. Outras diferenças podem resultar de uma reconstrução pouco rigorosa em relação ao original. As figuras do passo, na pintura, não são muito claras, mas, de facto, não parecem as mesmas.
Todavia, não há dúvidas de que que o passo e o tanque são, no essencial, idênticos aos que estavam no terreiro do Carmo. A sua posição coincide, sensivelmente, com a planta de 1863-67. Apesar da evidencia das diferenças, seria uma extraordinária coincidência se não fossem o tanque e o passo do Carmo de Guimarães.
Mas, lá está, temos o enigma da torre...
"Foi em 18 de Novembro de 1890 que a Câmara deliberou que o tanque
existente no largo do Carmo fosse mudado para a Rua Nova de Santo António, sendo a obra arrematada em Dezembro desse ano, por 109$000 réis. Em 1891 este foi instalado, embora fosse diminuído ligeiramente em relação ao seu tamanho anterior"
retirado da dissertação de mestrado de Maria José Meireles sobre arqueologia urbana. a fonte é João Lopes de Faria, Efemérides Vimaranenses pag.322
A dúvida que foi levantada quanto a ser o tanque pintado por Roquemont o do Carmo de Guimarães, prende-se, ao que me parece, acima de tudo, com a configuração dos elementos decorativos da parte superior. Não há dúvida de que, sendo o mesmo, sofreu posteriormente alterações significativas. Vendo-o no local onde se encontra hoje, nada vi que colocasse em causa, em definitivo, a possibilidade de ser o mesmo, embora com as alterações que são evicentes. Mas brasão pode não ter sido mudado) (olhando de lado, a perspectiva do que se vê não é muito diferente da que pintou Roquemont).