D. Afonso Henriques, 1.º Rei.


Nenhum Príncipe mereceu mais justamente o título de Herói famoso, e o nome de primeiro Hércules Lusitano, que o preclaro, e soberano Rei D. Afonso Henriques; porque se meditarmos os preciosos trabalhos, que passou na ampliação da Fé, e estabelecimento da Monarquia Portuguesa, não lhe fica o epíteto fabuloso, mas tão verdadeiro, que o excede.

Teve o seu nascimento na Vila de Guimarães, (primeiro Sólio, e Corte dos Príncipes Portugueses) a 25 de Julho de 1109 conforme o melhor cálculo e sendo seu nascimento festejado, assim como era útil, moderou o contentamento de pais, e vassalos um defeito corporal em sua pessoa. Dos braços de sua ama Dona Ausenda passou logo à cultura, e instrução de Egas Moniz, varão de maduro juízo, e destinado para seu Aio. Este por contínuas deprecações alcançou da puríssima Virgem saúde, e desembaraço aos pés do Príncipe, colocando-o por divina revelação no altar da imagem da Senhora de Cárquere junto a Lamego, prodígio, que referem quase todos os nossos Historiadores, e de que parece duvidar Mons. de la Clede.

Corria o ano 1125, e o ínclito Príncipe contava dezasseis de idade, quando na Igreja Catedral de Zamora, que por este tempo estaria sujeita à Coroa de Portugal, ele mesmo se armou Cavaleiro, tomando as insígnias militares do altar do Salvador. Passados dois anos, considerando-se já em idade competente de poder suster o Ceptro, intentou dar princípio ao seu governo. Duvidou a Rainha sua mãe, que até ali governava, entregar-lhe o domínio, e foi preciso ao filho excluí-la por força de armas, à custa de uma escandalosa batalha, que lhe ganhou no campo de S. Mamede junto a Guimarães em 24 de Junho de 1128.

João Baptista de Castro, Mapa de Portugal Antigo e Moderno, Tomo I, Lisboa, 1762, pp. 286-287.

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